Adriana está aliviada que Laura (D) está terminando o ensino médio, assim como a amiga Yolanda (E). Foto: Angelo Miguel.

Vai doer no bolso dos pais. E muito. O valor das mensalidades no ensino particular deverá ficar de 10% a 17% mais caro no próximo reajuste. Algumas unidades, inclusive, podem superar a previsão com aumentos ainda maiores. No ano passado, a correção chegou a 15%, com algumas exceções que apresentaram alta de 20% no valor das parcelas, o que também pode acontecer em 2016. As informações são da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do DF (Aspa).

A perspectiva é para o próximo ano, mas a atualização dos preços já começou a ser feita em muitas escolas privadas da capital. Não por acaso, a reação das famílias foi imediata. Segundo o presidente da Aspa, Luis Claudio Megiorin, até o momento foram registradas 80 reclamações, desde o fim de setembro. “São pais insatisfeitos não apenas com o valor das mensalidades, mas com a falta de transparência dos colégios”, afirma.

Ponto de vista

Para o economista César Bergo, o aumento previsto é, sim, bastante significativo. E pode ter um impacto ainda maior caso as famílias não aprendam a lidar com os novos gastos. Para isso, os pais precisam se unir, garante ele. “Vale a pena apresentar propostas aos colégios, negociar a antecipação de mensalidades, analisar a localização das instituições para possíveis cortes no transporte, conferir a quantidade de parcelas totais – se são dez ou 11 – e fazer planilhas incluindo gastos com uniforme e material escolar”, alerta Bergo. Ele destaca ainda que colocar todos os filhos na mesma instituição é uma aposta inteligente.

Para ele, a solução é buscar um diálogo com a unidade. “Sugiro cobrar a planilha de custos da instituição e entender onde o reajuste está sendo feito”, completa. Megiorin aproveita para listar a tabela de algumas escolas importantes da capital. De acordo com ele, o Leonardo da Vinci, o Sigma e o Marista devem ter aumento de 10% a 12%. Já o Colégio Serios poderá ficar até 16% mais caro.

Cenário de crise

“Recentemente, também recebemos uma reclamação contra o 7º ano do Galois, que aumentou 17%. Vale lembrar, no entanto, que não podemos dizer que a atualização dos preços é abusiva, apesar de todos os indícios. Estamos vivendo um cenário de crise muito complexo. Não é à toa que três escolas particulares do DF estão quebrando”, acrescenta o presidente da Aspa.

O presidente da Associação de Escolas Particulares do DF (Aesp), Anchieta Coimbra, concorda com Megiorin. Para ele, é importante considerar o custo operacional de uma instituição. “Manter uma escola está cada vez mais caro. As despesas com água, luz, telefone, funcionários e reformas dispararam. Portanto, se não houver um alinhamento de valores, o colégio não tem condições de funcionar”, explica.

Sacrifícios

Por outro lado, ele destaca o sacrifício dos pais para garantir um ensino de qualidade aos filhos. “A realidade é que chegamos a uma bola de neve. A maioria dos pais de alunos de escolas privadas é de funcionários públicos. Acontece que o governo não paga, as famílias não recebem os salários, mas as escolas precisam fazer o reajuste. Hoje, vejo que muitas unidades estão fazendo de tudo para aumentar o menos possível de um ano para o outro. Elas também estão inseguras”, afirma.

Coimbra destaca que, nos últimos cinco anos, o valor das mensalidades aumentou de 12% a 16%. Entretanto, desta vez, o crescimento será maior: de 16% a 22%, sempre acima da inflação. “A causa é o aumento do custo operacional dos colégios. Na prática, se eles fossem cobrar tudo o que gastam, quebrariam. O problema é que o governo não consegue cuidar de nenhum aluno, seja ele do ensino público ou privado. Ao aumentar as despesas de uma empresa, ele afeta a educação desses alunos e o planejamento financeiro dos pais”, conclui o presidente da Aesp.

Pais fazem ajustes no orçamento

Na saída das escolas particulares, a insatisfação dos pais diante do aumento nas mensalidades do próximo ano é unânime. No entanto, para a dentista Adriana Abdalla, 45 anos, o esforço é válido. “Infelizmente, não temos um ensino público de qualidade. Então, fiz de tudo para manter meus filhos em uma escola privada até a formação. O mais velho está na faculdade e a mais nova está quase terminando. É um alívio. Pagar um colégio bom pesa muito no bolso”, declara Adriana, que é mãe da Laura, de 17 anos.

A dentista lamenta a piora do ensino público. “Na minha época, a educação era igual. Estudar em um colégio privado era questão de escolha. Hoje, fazemos economia para mantê-los no particular. Cortamos saídas desnecessárias e trabalhamos duro”, completa.

Mãe de Sophia, de dez anos, e de João Gustavo, de dois, a publicitária Gabriela Thomé, 35 anos, diz que se sente refém da situação. “Se eu quero uma boa educação para eles, tenho que me sacrificar para pagar a mensalidade. Portanto, acabo cortando supérfluos para conseguir mantê-los em uma instituição particular”, afirma.

Manuela Rolim
manuela.rolim@jornaldebrasilia.com.br