Por Roberta Torres

Com a proximidade das festas de final de ano, a agenda fica repleta de comemorações. Afinal, chegam as confraternizações com os colegas de trabalho, encontros para rever os amigos de infância e as reuniões com familiares. Esses momentos sempre contam com bebida alcóolica no cardápio, o que aumenta a preocupação quanto à conduta arriscada daqueles que insistem em combinar álcool e direção. Estima-se que cerca de 54% dos motoristas brasileiros bebem e dirigem, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

Levantamento do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) mostra que dezembro é o mês com o maior número de mortes no trânsito em estradas federais. A pesquisa considerou o período entre 2007 e 2014, quando a média nos meses de dezembro de cada ano foi de 818 mortes. Enquanto isso, o mesmo indicador aponta para uma média de 666 óbitos ocorridos ao longo de cada um dos demais meses. O ONSV considerou que essa alta no último mês do ano não se justifica apenas pelo crescimento da quantidade de veículos em circulação. A adoção de comportamentos de risco, como misturar álcool e direção, também é um dos fatores que explica essa estatística. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) revela que 8% dos acidentes com mortes nas estradas federais são ocasionados pela ingestão de álcool.

A preocupação com a conscientização dos condutores quanto a esse comportamento de risco é tanta que desde o início de novembro o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê uma punição mais severa para quem for flagrado dirigindo embriagado, a partir da regulamentação da infração quanto à recusa ao teste de alcoolemia pelo condutor. Agora quem insistir em não fazer o teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa comete infração gravíssima (perdendo 7 pontos na Carteira Nacional de Habilitação – CNH), recebe multa de R$ 2.934,70, e ainda perde o direito de dirigir pelo período de 12 meses. Além disso, a CNH será recolhida pela autoridade e o veículo retido. Em caso de reincidência dentro de 12 meses, a multa dobra.

Para construirmos um trânsito mais seguro não basta apenas alterar o CTB. É necessário também trabalhar na ponta inicial do processo: a formação do condutor. Por isso, medidas preventivas e educativas como a adoção do simulador de direção veicular funcionam como importantes ferramentas de preparação para os futuros motoristas. Isso porque o equipamento possibilita vivenciar, com segurança, os reflexos do álcool no organismo de quem está na direção, ao oferecer a função de alcoolemia em uma das cinco aulas previstas pela legislação. É uma forma de não apenas alertar, mas de demonstrar como se perde a visão periférica e como a noção de profundidade é afetada pela ingestão de álcool.

Por essa ser uma época do ano em que as pessoas costumam confraternizar, em meio a um clima de maior harmonia e sensibilidade, por que arriscar a própria vida, a de quem amamos e a de terceiros, com um comportamento irresponsável? Celebre a vida de forma consciente e não transforme momentos de celebração em tragédia. Pense nisso!

Roberta Torres é mestre em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência pela faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista em Segurança e Educação no Trânsito.