O ano de 2017 será uma prova de fogo para o governo do presidente da República, Michel Temer. Passado o risco de convocação de nova eleição, via voto popular, Temer buscará fazer o que sabe de melhor, a articulação política, para evitar que o Congresso Nacional escolha um novo presidente para o seu lugar.
Presidente Michel Temer

Para evitar uma eleição indireta, ocasião em que os deputados federais e senadores escolhem o novo presidente da República, a relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional deverá permanecer tranquila e em clima de um casamento quase perfeito. Essa paz entre os respectivos cônjuges é a grande dificuldade que o atual governo deverá ter no decorrer deste ano.

A boa relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional está sob controle, mas pode começar a ter problemas a partir do dia 2 de fevereiro, dia da eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados. Parlamentares da base de apoio ao presidente da República já lançaram candidaturas à Presidência da Casa, mas eles estão se sentindo preteridos e dizem que o Planalto tem atuado para que o atual presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ), seja reeleito. Temer e sua equipe negam e afirmam que o governo não se intrometerá nesta disputa, justamente para que não acusem o Planalto de preferir este ou aquele candidato.

No discurso faz sentido, mas na prática é impossível o Poder Executivo não tentar influenciar em uma disputa para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Como Temer fará para curar as feridas abertas desse processo entre seus aliados postulantes ao cargo não sabemos ainda. Mas este será o primeiro grande desafio para que ele evite o início de um processo de eleição indireta.

Se vencer esta batalha, Temer terá que tirar da cabeça do senador Renan Calheiros (PMDB/AL), que deixará a presidência do Senado Federal em 2 de fevereiro, a ideia de que ele tem que ser ministro. Renan, que queria ser líder do PMDB no Senado neste ano e já teve seu nome rejeitado pela bancada, tem martelado na cabeça do presidente que precisa se manter nos holofotes e uma indicação para um ministério de peso o manteria vivo no combate contra a Operação Lava Jato. O fato é que se Temer ceder a esse devaneio de Renan, este poderá ser o episódio que dará início ao processo de uma eleição indireta com o apoio das manifestações que estarão nas ruas.

Além das questões políticas-partidária, o presidente da República enfrentará outras batalhas árduas e que afetam diretamente a população. As reformas da Previdência e Trabalhista são exemplos que podem gerar um grande desgaste político a Michel Temer no Congresso Nacional. Aqui, ele terá que intensificar a articulação com os parlamentares e até fazer mágica, uma vez que muitos deputados e senadores para ficar ao lado do governo terão que “trair” suas bases eleitorais. E em um período de plena fiscalização dos atores políticos, abandonar bandeiras pode não ser uma boa saída para que pretende disputar eleição em 2018. O exemplo do PT na última eleição para as prefeituras já demonstrou bem isso.

Outros pontos que Temer terá que passar por cima para terminar o ano de 2017 como presidente da República são as citações ao seu nome por delatores da Lava-jato e o processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pede a cassação da chapa Dilma-Temer. Apesar de serem temas que não estão diretamente ligados ao Congresso Nacional, eles podem refletir negativamente e abalar o casamento que até lá já pode estar com os seus dias contados.

Os obstáculos para Michel Temer se manter no poder até o fim do seu mandato são muitos e espinhosos. Conseguindo passar por todos, uma coisa é certa: ele entregará a faixa presidencial para o próximo presidente eleito. Diferente do atual presidente da Câmara dos Deputados, que ao ser eleito para um mandato tampão afirmou não ser candidato à reeleição e será, Temer não possuirá condições políticas para disputar uma eleição presidencial em 2018.
Por André Guedes