Dono de lavanderia em Taguatinga, no DF, mostra roupas
 sujas sem lavar pela falta d'água (Foto: Vinicius Werneck/G1)
Racionamento completa um mês nesta quinta (16). Previsto para durar um dia por semana, serviço pode demorar quase três para voltar ao normal, dizem empresários; Caesb nega demora.

Empresários e pequenos comerciantes atingidos pelo racionamento de água no Distrito Federal, que completa um mês nesta quinta-feira (16), reclamam da demora no restabelecimento semanal do serviço. Com a crise hídrica, eles precisaram se adaptar para continuar trabalhando.

De acordo com os comerciantes, o corte é previsto para durar apenas um dia, mas a volta normal do fluxo pode levar até três em alguns locais. A Caesb, responsável pela distribuição de água no DF, disse que esse formato (um dia de fechamento e dois de estabilização) foi amplamente divulgado.

A companhia informou também que restabelecer o serviço por completo pode demorar porque o religamento é gradual. Em nota, a empresa disse que "somente prédios, de comércio ou residencial, que não possuem caixa d'água inferior, estão tendo dificuldades".

"Esses clientes estão em desacordo com as normas técnicas e precisam tomar providências urgentes para melhorar o abastecimento da unidade habitacional", informou a Caesb.

O G1 acompanhou a rotina de estabelecimentos em Taguatinga, Recanto das Emas e Riacho Fundo II, que sofreram o corte nesta terça e quarta-feira. Em meio a crise, estocar água para quase toda a semana tem sido a saída encontrada por lavanderias e salões de beleza.

"Para se virar sem água está complicado. Fora a caixa d'água, de 500 litros, nós usamos um balde, duas bacias grandes e uma máquina [de lavar roupas] cheia de água", contou a cabeleireira Rafaela Marques, que trabalha no Riacho II.

Baldes d'água próximos ao local onde cabelo dos clientes é lavado em salão do Riacho Fundo II, no DF (Foto: Vinicius Werneck/G1)

"O problema nem é o dia em que falta água, mas quando ela volta. Você não fica sem água em apenas um dia. São quase três."

Em outro salão onde Rafaela trabalha, em Águas Claras, clientes já viraram as costas por causa da crise. "Perdi cliente porque fiquei sem água. Para lavar o cabelo delas, usamos os baldes, mas a água é fria. É um constrangimento".

Dono de uma lanchonete em Taguatinga há 30 anos, José Carlos dos Santos também aderiu ao estoque de água. "Não fechamos porque temos a reserva dos baldes. Temos uns três grandes aqui, de 60 litros cada um", revelou.

Segundo ele, o preço no comércio dos utensílios usados para armazenar água triplicou. "Para se ter uma ideia, tem balde pequeno que não sai por menos de R$ 40", contou. Lojas no Recanto das Emas anunciam "caixa d'água barata" e a "preços top".

Caixas d'água em oferta em loja do Recanto das Emas, no DF (Foto: Vinicius Werneck/G1)

Para Marcelo Lima, dono de uma lavanderia em Taguatinga, não há nada de barato ou "top" nos novos preços das caixas d'água. Como o racionamento expulsou a clientela, ele não tem dinheiro para adquirir uma caixa nova, mais adequada para a demanda da loja.

O racionamento obrigou Lima a demorar dois dias a mais para devolver a roupa limpa para os clientes, o que afastou a freguesia.

"Ainda não calculei o prejuízo. Eu deixo a loja aberta só para captar cliente. Em dia de corte, dispenso a a funcionária da lavagem ao meio dia."

A Caesb pede para que os usuários registrem qualquer reclamação pelo telefone 115, para que a empresa possa tomar providências imediatas.

Situação preocupante

O racionamento começou em 16 de janeiro e atinge os dois terços da população do DF abastecidos pelo reservatório do Descoberto, o maior e o mais prejudicado com a crise hídrica. Os demais moradores, que recebem água do sistema Torto/Santa Maria, foram poupados.

No fim do ano passado, o Descoberto alcançou índice de 19%, o menor da história. Nesta quarta, o volume total de água do sistema chegou a 36,3%. Como a previsão tem sido de menos chuva que o normal, a situação é considerada preocupante.

 Técnicos da Caesb consideram que rede precisa de muito mais para sair da crise. Até alcançar o patamar de 40%, o Descoberto segue no "estado de alerta". A zona de perigo só acaba no índice de 60%. Os reservatórios do DF não atingem esse nível desde agosto do ano passado.

Fonte: G1