Detergente, papel higiênico, resma de papel A4 e pincéis de quadro branco são alguns dos materiais que correm risco de faltar em pelo menos cinco escolas da rede pública em Ceilândia e no Gama. Diretores e demais responsáveis pelas instituições alegam que não receberam verba do GDF neste ano, que estaria em atraso desde maio do ano passado. Esse é o motivo que afeta a compra de materiais essenciais para as unidades escolares. O problema já atinge as família dos alunos, que precisam mandar produtos de casa, na mochila dos filhos, para suprir a falta nos colégios.

“Os diretores convocaram uma reunião com os pais, apresentaram o problema e solicitaram que enviassem, por meio dos nossos filhos, os produtos que estão faltando na escola. Isso é um absurdo”, reclama David Sousa, 24 anos, que tem um filho de seis anos matriculado na Escola Classe 55 no Setor O, em Ceilândia.

Além dessa instituição, pelo menos outros quatro colégios na região enfrentam os mesmos problemas, como as Escolas Classe 48, 56 e 14 e o Centro de Ensino Fundamental 27, no P Sul.

De acordo com a diretora da EC 56, Ana Cláudia Araújo, o centro precisou fazer adaptações no modo de utilização dos insumos, como o papel higiênico, para não haver gastos excessivos. “Não é que os materiais estejam faltando, mas não temos a quantidade de antigamente. Por isso, a gente precisa controlar para não acabar na escola inteira”, explica.

Ela também reconhece que o repasse não foi efetivado, e que procura alternativas para não deixar a situação se tornar precária. “Realizamos passeios escolares e, com o dinheiro arrecadado, investimos na compra de materiais”, frisa. “Quero dizer que a escola está aberta para receber doações”, comenta.

Caos após dois meses

Segundo uma fonte da EC 55, que preferiu não se identificar, a escola também não recebeu o repasse de 2017 da verba do GDF. “Apesar da situação, a rotina da escola não foi afetada, mas o estoque que temos deve durar no máximo dois meses. Depois disso não sabemos o que vamos fazer”, aponta.

De acordo com ela, os pais não tiveram acesso a essa informação. “Não tratamos desse assunto com eles por se tratar de algo interno”, argumenta.

Recurso não chegou a sair do papel

De acordo com publicação deste ano no Diário Oficial da União do Distrito Federal, o GDF repassou R$ 29,8 milhões para 673 unidades escolares, por meio do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (Pdaf). A quantia é referente ao primeiro semestre de 2017 e pode ser utilizada para pequenos reparos, custeio de projetos pedagógicos e aquisição de alimentos, quando necessário.

Desse valor, foram enviados R$ 41 mil para a Escola Classe 55 de Ceilândia. Já a EC 56 da mesma região teve repasse de R$ 44 mil. A verba para a EC 14 ficou estimada em R$ 50 mil. Para a EC 48 foram investidos R$ 39 mil, e para o Centro de Ensino Fundamental 27, R$ 81 mil. Mas os centros estudantis alegam não ter recebido o dinheiro.

O diretor de imprensa do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), Cleber Ribeiro Soares, denuncia que milhares de escolas ainda não receberam o repasse e enfrentam problemas. “Fui a uma escola do Gama hoje (ontem), onde minha filha estuda, e lá o que é servido de lanche é biscoito com suco. Até papel está em falta”, aponta.

Ele afirma que os quase R$ 30 milhões liberados por meio do Pdaf foram anunciados como forma de ludibriar imprensa e população. Segundo o sindicalista, muitos gestores de escolas devem aplicar a primeira parcela de 2017 no pagamento de dívidas. “Ano passado, alguns levaram quase o ano todo para receber a segunda parcela. Então o diretor precisava se endividar ou a escola fechava”, expôs.

O diretor do Sinpro antecipa que o governo vai “alegar falta de prestação de contas” para justificar os atrasos e critica esse posicionamento. “Se eles precisam disso para liberar a verba, então a secretaria precisa se preocupar em capacitar os gestores para conseguir fazer isso a tempo. Não é só cobrar, tem que mostrar como fazer”, alfineta.

Versão oficial

A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) informa que, em 2016, foi repassado para as escolas da rede pública do DF o valor de R$ 86,7 milhões, referente ao Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (Pdaf).

Quanto às solicitações de material escolar, a pasta esclarece que enviou uma instrução para todas as escolas da rede pública de ensino do DF sobre o que pode e o que não deve ser solicitado na lista de material escolar. Ressalta que os materiais de uso coletivo, como copos descartáveis e papel higiênico, por exemplo, não podem constar em nenhuma lista de material escolar.

O órgão informa também que as escolas que contam com o setor de Associações de Pais, Responsáveis, Mestres e Estudantes, entidades privadas de atuação na rede pública, podem solicitar contribuições dos associados de forma voluntária, no qual cada responsável pelo aluno matriculado na instituição faz doações com o que puder, sem estimativa de valores.

Com informações do portal Jornal de Brasília.