Protestando contra as reformas em votação no Congresso Nacional e exigindo a renúncia do presidente Michel Temer (PMDB), milhares de membros de centrais sindicais e da sociedade civil tomaram o coração de Brasília de assalto. O protesto contou com momento de violência extrema em conflitos entre uma parcela dos participantes e a Polícia Militar. Um manifestante teve a mão destroçada. Por outro lado, oito policiais ficaram feridos. Ministérios foram atacados e alguns prédios foram incendiados. Os protestos fizeram com o Presidência da Republica redigisse um decreto autorizando a ação das Forças Armadas no Distrito Federal.

Batizada como Ocupa Brasília, a manifestação reuniu pelo menos 45 mil pessoas, segundo dados são da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF). Pelas contas dos manifestantes o número foi de 300 mil. A concentração de manifestantes começou nas primeiras horas da manhã. Aproximadamente, 500 ônibus trouxeram centenas de pessoas para a concentração, ao lado do Estádio Nacional Mané Garrincha. Antes das 11h, começaram os primeiros embates entre o movimento e a PM.

No fim da manifestação, oito pessoas acabaram detidas e conduzidas ao Departamento de Polícia Especializada (DPE) da Polícia Civil. Três delas foram presas por porte de substância entorpecente para consumo pessoal e porte de arma branca, uma por porte de arma branca, duas por resistência e pichação, uma por lesão corporal e resistência e uma por desacato. Durante os atos, foram registrados três incêndios: no Ministério da Agricultura, no Ministério da Integração Nacional e em banheiros químicos. Também foram registradas depredações em oito Ministérios e na Catedral.

O Corpo de Bombeiros registrou 49 ocorrências. Quatro manifestantes receberam atendimento no local e foram liberados. Os demais foram encaminhados ao hospital de Base e ao Hospital Regional da Asa Norte. Entre os motivos para atendimento, segundo a Secretaria de Segurança, estão cortes na mão, ferimento por instrumento de menor potencial ofensivo, corte no pescoço, queda por trauma na coluna, perfuração por arma de fogo e mal estar. Do total, estão os oitos policiais militares, que foram levados para o Hospital da Asa Norte. O caso mais grave entre os policiais foi o de um policial que quebrou a perna.

A Polícia Militar abrirá inquérito para investigar policiais militares que aparecem em imagens com arma de fogo nas mãos. Segundo a pasta, este procedimento não é adotado em manifestações e os incidentes e as responsabilidades serão apuradas.

Hugo Barreto

No Congresso, a base governista tentava levar a frente a votação das reformas, sendo severamente obstruída pela oposição. O movimento do governo inflamou ainda mais os ânimos do protesto. Por volta da 15h30, os embates entre os manifestantes e a polícia se agravaram. Neste momento, prédios públicos viraram alvos de ataques. Com paus, pedras e até com fogo depredaram diversos ministérios. Barricadas em chamas também foram montadas nas vias. A PM reagiu com bombas de efeito moral. Na escalada da violência, conforme relato de testemunhas, um manifestante iria jogar um rojão contra a PM. Não teve sucesso. O artefato estraçalhou a mão do rapaz, que foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros.

Servidores públicos fugiram dos prédios. O governo parou. No Congresso a sessão foi suspensa. O movimento começou a dispersar. O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) que é favorável a renúncia de Temer repudiou publicamente os atos de violência. “O nosso governo primado por garantir a livre manifestação das opiniões. Mas no Estado Democrático de Direito, nós temos obrigação de fazê-lo de forma respeitosa sem colocar em risco a integridade das pessoas e a integridade do patrimônio público. Infelizmente, o que estamos vendo hoje nas manifestações em Brasília são muito diferentes disso. Essa violência não leva à nada. Essa violência traz mais violência”, criticou.

O Planalto também reagiu. E o ministro da Defesa Raul Jungmann (PPS) anunciou que as Forças Armadas vão atuar no DF. Um decreto assinado pelo presidente Temer assegura a ação das tropas federais até o dia 31 deste mês. Perto da Rodoviária, os manifestantes voltaram a enfrentar a PM . A cavalaria entrou em cena. O conflito fez com os ônibus parassem de chegar ao local, dificultando o transporte de trabalhadores e de outras pessoas que não estavam envolvidas na manifestação.

Francisco Dutra
JBr