Para conscientizar sobre a amamentação materna, um recurso que diminui a taxa de mortalidade infantil, e a doação de leite, comemora-se hoje o Dia Nacional de Doação do Leite Humano. Brasília é considerada a capital mundial do assunto, mas ainda é preciso avançar. Como estímulo à prática, a Secretaria da Saúde lançou o aplicativo Amamenta Brasília, que conecta as mães doadoras, o Banco de Leite e o Corpo de Bombeiros.

O aplicativo contará com a função de cadastrar as doadoras, com informações sobre doação e amamentação e ainda fará a ligação com a Rota de Bombeiros para a coleta do material doado até o Banco de Leite.

A coordenadora do Banco de Leite do DF, Miriam Santos, ressalta que a doação deve ser encarada como prioridade devido à necessidade dos recém-nascidos, ainda mais se estiverem fragilizados e doentes. Ela argumenta que todo dia nascem crianças, e, com elas, novas doadoras.

“Em relação à doação, o leite materno é mais restrito do que o sangue. Só mulher doa leite, porque só mulher amamenta. Mas todo mundo pode doar sangue”, compara. “Os bebês devem ser alimentados com o melhor alimento possível para terem qualidade de vida. Já foi comprovado que isso desenvolve a inteligência à medida que eles vão crescendo”, ressalta.

Entre os anos de 2009 e 2016, mais de 1,8 milhão de recém-nascidos foram beneficiados pelas doações arrecadadas pelos Bancos de Leite Humano do Brasil. Raquel Prata, chefe de unidade do Banco de Leite do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), considera que a capital tem mães comprometidas com a doação. “Mas, mesmo assim, houve uma queda nos últimos dois anos”, diz. “Precisamos informar mais a população e dar mais apoio às mães que estão amamentando”, completa.

Prioridade

Miriam Santos explica que o leite humano doado é essencial para os bebês que eventualmente não têm acesso ao leite da mãe. Seja porque o leite materno secou ou por doença e dificuldades de adaptação. As doações são para os bebês internados nas unidades neonatais, e a prioridade é para os primeiros seis meses de nascimento.

“A unidade pública oferece leite para a criança que necessita, mas também ajuda a rede privada, que tem atendimento em quatro unidades”, destaca.

Gratidão por ajudar e ser ajudado

Os bancos de leite acolhem as mães e os bebês que precisam de adaptação para mamar e os que têm outras complicações. A estudante Paula Silvério, 27, é mãe de Erick, que, com dez dias, ainda não tinha conseguido mamar. A mulher foi acolhida pela equipe do Hmib esta semana e só sente gratidão, pois agora o filho está melhor.

“Eu tive dificuldade para amamentar, meu bico do peito estava invertido”, diz. “Usei o leite doado, fui bem acolhida e, mesmo já sabendo da existência do banco, não sabia o quão eficiente é”, conta.

Ela pretende doar leite assim que o filho se adaptar e ficar mais forte. “A gente que é mãe vê o bebê chorar, com fome, e se desespera”. Mesmo sabendo das doações de leite, faltava para ela a consciência sobre a importância. “Só as mães que passam por isso sabem o tanto que é fundamental”, comenta.

Edilaine Jaqueline Chaves tem 24 anos e a filha Isabela, com um mês de vida, não podia tomar o leite da mãe. Devido a uma cirurgia na barriguinha da criança, o leite de Edilaine não supria as necessidades da bebê. “Ela já usou o leite do banco, agora está mamando no meu peito”, comemora.

Desde que a filha ficou internada, a mãe tem doado o leite que não deu para a bebê. Para Edilaine, foi muito importante ser acolhida e ter leite para Isabela, e por isso ela acredita que pode ajudar outras pessoas também.

A psicóloga Merlice Figueira, 32, começou a doar leite desde o nascimento da filha. “Eu tinha noção de que precisava de doação e também tinha muita pena de jogar leite fora”, comenta. Ao relatar a satisfação de poder doar, Merlice menciona ainda a sensação de dever cumprido. “Posso ajudar outros bebês a crescer, mesmo sem conhecer os rostos e as histórias”. E alerta: “Precisamos bater na tecla da relação de mãe e filho e o quanto o leite materno é importante nesse meio”.

SERVIÇO

Para doar leite, a mãe precisa:
Estar saudável, não usar medicamentos incompatíveis com a amamentação.
Usar potes de vidro com tampa plástica.
Tirar leite em lugar limpo.
Ferver o pote por 15 minutos e deixar secar em pano limpo.
Lavar os braços, usar touca.
Lavar as mamas com água.
Identificar o pote com nome e data da primeira coleta, depois colocar no congelador.
Ligar no 160, opção 4, para fazer cadastro de doação e para a rota de coleta dos bombeiros.
O cadastro pode ser feito também aqui.

Foto: Myke Sena
Jornal de Brasilia