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A sociedade precisa conhecer melhor a Esclerose Múltipla. A informação é aliada do diagnóstico precoce, além de ajudar a combater o preconceito.

Cerca de 35 mil¹ pessoas têm Esclerose Múltipla no Brasil, mas, mesmo com números tão impressionantes, os pacientes, geralmente mulheres e que estão na faixa etária mais ativa da vida - de 20 a 40 anos -, enfrentam um cenário inóspito e hostil ao serem diagnosticados e perceberem a necessidade de enfrentar preconceito gerados pela falta de informação, que leva ao diagnóstico tardio. 

A Esclerose Múltipla é uma doença neurológica crônica, imunomediada, que não apresenta cura. As células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando a perda de mielina, uma substância cuja função é fazer com que o impulso nervoso percorra os neurônios de forma rápida. Este processo, chamado de desmielinização, ocorre por meio dos surtos nas formas recorrentes. Além disso, ocorre, em maior ou menor quantidade, uma perda dos axônios, ou seja, da fibra nervosa propriamente dita.

A doença pode se manifestar de duas formas: remitente recorrente e a progressiva primária. Sendo que a remitente recorrente é a predominante, ocorrendo em torno de 80% a 85% dos casos. Caracteriza-se por exacerbações seguidas, que em 50% dos pacientes pode evoluir, após 10 anos, para a forma de esclerose múltipla secundariamente progressiva².

“A perda da mielina causada pela agressão do sistema imune, determina um processo inflamatório e por consequência, leva o paciente à perda de determinadas funções cerebrais ou medulares. As inflamações deixam cicatrizes que podem ser vistas pela ressonância magnética e não apenas levam ao diagnóstico como também auxiliam no acompanhamento de atividade e progressão da doença. Sabe-se atualmente que, quanto mais precoce o diagnóstico, maior as chances da personalização do tratamento, evitando, assim, a consequências mais danosas ao sistema nervoso”, conta Dr. Jefferson Becker, presidente do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla e Doenças Neuroimunológicas (BCTRIMS).

A demora no diagnóstico é causada pela desinformação acerca da doença, já que os sintomas podem ser confundidos com diversas outras enfermidades. Dentre os mais comuns estão fadiga imprevisível ou desproporcional à atividade realizada, alterações fonoaudiológicas como fala lenta, palavras arrastadas, voz trêmula e dificuldade para engolir, visão dupla ou embaçada, problemas de equilíbrio e coordenação, sensação de queimação ou formigamento em uma parte do corpo, perda de memória, transtornos emocionais e problemas sexuais como perda de libido e sensibilidade. Os enganos mais frequentes no momento do diagnóstico se dão por subvalorizar ou supervalorizar os sintomas, levando a falsos positivo e negativo. Por isso, é necessário procurar um médico neurologista, que é o profissional mais adequado para investigar e tratar pacientes com essa doença.

Segundo o especialista, apesar de não ter cura, a Esclerose Múltipla pode ser controlada através de tratamentos medicamentosos que buscam reduzir a atividade inflamatória e os surtos ao longo tempo, contribuindo para a redução do acúmulo de incapacidade durante a vida do paciente. “O destaque dentre eles vai para a linha imunossupressora, que reduz a atividade da doença por meio do combate seletivo ao sistema imunológico deficiente”, conclui Jefferson.

Com o tratamento adequado, o paciente com Esclerose Múltipla pode ter uma vida completa, como é o caso da Márcia Bonilha que tinha 41 anos quando sofreu o primeiro surto: perda de visão. “Quando descobri, percebi que teria de aprender a viver com esclerose para poder criar minhas filhas. Então, decidi que iria vencer e que a doença não ia me parar”, conta. Depois do diagnóstico, se formou, pós-graduou, escreveu três livros e publicou-os, cuida de sua hortinha, fala alemão, inglês e italiano. Se permite rir, se desafiar e aprender. “Hoje, aos 59 anos, minha filosofia é que uma pessoa com esclerose múltipla pode fazer o que quiser”, conclui.

Dr. Jefferson Becker, presidente do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla e Doenças Neurológica

Referências:
1. Estimativa Associação Brasileira de Esclerose Múltipla – ABEM; http://abem.org.br/esclerose/o-que-e-esclerose-multipla/#diagnostico

2. Recomendações Esclerose Múltipla Academia Brasileira de Neurologia – 2012
http://formsus.datasus.gov.br/novoimgarq/14491/2240628_109700.pdf