Por falta de pagamento da cesta básica e dos auxílio alimentação, rodoviários decidiram manter a paralisação das atividades até, pelo menos, a próxima segunda-feira (22/5). Apenas a Viação Piracicabana DF, que atende em Águas Claras, Asa Norte, Asa Sul, Brazlândia, Cruzeiro, Estrutural, Guará, Planaltina, Sobradinho II, Sobradinho, Sudoeste, Taguatinga, Varjão, Lago Norte e Fercal, continuou rodando. A Associação das Empresas de Ônibus explicou que os trabalhadores reivindicam um adiantamento de salário, mas que as empresas não teriam como pagar, já que o governo teria deixado de repassar os valores de reembolso das gratuidades de estudantes e portadores de necessidades especiais. Isso, ainda de acordo com a associação, teria gerado uma dívida de mais de R$ 209 milhões.

As empresas de transporte público informaram ao Correio que os empresários se reuniram com representantes do Sindicato dos Rodoviários para pedir um prazo maior para pagar o adiantamento dos salários, assim como as cestas básicas, mas o acordo não foi aceito. A categoria acrescenta, ainda, que as empresas têm feito diversos empréstimos bancários para quitar as pendências com os trabalhadores “há muito tempo” e que, no momento, não têm mais crédito na praça. Apenas a Viação Piracicabana teria conseguido um novo empréstimo.

De acordo com Barbosa Neto, presidente da Associação das Empresas de Transporte Público e Coletivo do DF (Transit), a paralisação aconteceu porque as empresas de ônibus e os trabalhadores têm um acordo coletivo, que venceu em 30 de abril. “A partir de 1º de maio teríamos que ter outro acordo, então, diante disso, não há ilegalidade em não pagar a cesta básica e o adiantamento de salário”, justificou. “Diante das dificuldades financeiras, na expectativa de ter o recebimento, as empresas pediram que o sindicato aguardasse, assim como diversos setores, para receber na sexta que vem (26/5) ao invés de hoje, mas eles não aceitaram”. O salário dos rodoviários, segundo Barbosa, está em dia e foi pago no último dia 5.

Carlos Roberto Chagas, funcionário da área operacional da empresa de ônibus Cootarde, disse que as cooperativas não pararam e estão rodando em Ceilândia, Gama, Santa Maria, Brazlândia, Taguatinga e Riacho Fundo. “As cooperativas estão atuando nessas regiões para os passageiros que precisarem de ônibus”, reforçou. “Os passageiros que precisam ir trabalhar e estiverem nessas regiões podem ir para as paradas de ônibus tranquilos”.

Do lado do governo, a Secretaria de Mobilidade informou, em nota, que o GDF está em dia com o cronograma de pagamento combinado com as empresas em 2016. Para este ano, a pasta ressaltou que está providenciando o pagamento da dívida de R$ 88 milhões referente a 2015. Ainda de acordo com a secretaria, há uma dívida de R$ 56 milhões referente ao ano de 2016, que também está sendo negociada com as empresas que operam o Sistema de Transporte Público Coletivo (STPC).

A nota da Secretaria de Mobilidade ressaltou, ainda, que as despesas deste mês estão sendo pagas tanto diariamente (vale transporte e cartão cidadão), quanto mensalmente. No mês de maio, este repasse teria sido de R$ 34 milhões. Ainda faltam R$ 11 milhões referentes a março, o que quitaria os débitos de 2017. Referente ao pagamento dos funcionários, a pasta esclareceu que compete às empresas garantir o repasse dos salários e demais encargos trabalhistas.

Transtornos e transporte pirata

Em Taguatinga, Ceilândia, Recanto das Emas e muitos outros locais do DF as paradas de ônibus amanheceram lotadas. Ônibus e vans piratas, além de carros particulares, disputavam os passageiros. Cansados de esperar, a maioria dos usuários acabou cedendo e embarcando no transporte alternativo. Um homem que cobrava as passagens de uma van pirata, e que não quis se identificar justificou, a ação: “o governo não dá prioridade para a população, então só sobra a gente.”

Por volta das 11h, o pintor Alex Ribeiro, 43 anos, já amargava uma espera de mais de 1 hora por um ônibus para o P Sul que passasse no centro de Ceilândia. Morador da cidade, ele tinha que estar em seu local de destino até o meio dia deste sábado, para, assim, seguir para a QNQ e depois retornar para a Ceilândia, a fim de fechar orçamentos para trabalhos futuros. “Precisaria pegar três conduções, mas está bem complicado”, reclamou. “Só se Deus abençoar a gente mesmo para conseguir pegar ônibus hoje”.

O jeito foi embarcar em uma van pirata. Para Ribeiro, é preciso encontrar um meio termo para que os direitos dos rodoviários sejam respeitados sem que a população sofra. “Nosso ganha-pão acaba sendo prejudicado. Eles estão sem salário mas a gente também vai acabar ficando sem. A greve é boa para a categoria dos rodoviários, mas a população depende deles”, desabafa.

João Francisco, 50 anos, é agente de portaria e tinha passado a madrugada de sábado trabalhando. Cansado do turno, que se esticou das 19h de sexta às 7h de sábado, ele já esperava há quase quatro horas no centro de Ceilândia por uma condução que o levasse para casa, em Santa Maria. “Estou doido para chegar em casa e o pessoal faz greve e não avisa para ninguém”, reclamou. “Se tivessem avisado, a gente poderia ter se programado”.

Francisco trabalha em Vicente Pires e só conseguiu chegar em Ceilândia graças a carona de um amigo. Antes de conseguir a ajuda, contudo, esperou meia hora por um ônibus. “Eles [os rodoviários]tinham que ter deixado pelo menos alguns ônibus rodando, não pode ser assim”, avaliou. Sem ter como chegar em casa de transporte público, João Francisco tampouco podia contar com alguém para buscá-lo. “Minha esposa trabalha na Asa Norte e não conseguiu nem sair de Santa Maria”, justificou. “Se eu não conseguir pegar ônibus hoje, vou ter que ficar aqui em Ceilândia até amanhã à noite, quando for a hora de trabalhar de novo”.

Por: Correio braziliense