Os crimes contra a honra na internet somaram quase metade das ocorrências cibernéticas entre janeiro de 2016 e março deste ano. O número representa 45% dos casos, divididos entre difamação (21%), injúria (20%) e calúnia (4%), conforme destaca a Polícia Civil. Em segundo lugar aparecem os estelionatos virtuais, com 24% dos registros, seguidos de ameaças, com 13%. Ainda na mira dos criminosos, os usuários também não escapam dos golpes, normalmente bancários, que chegam via SMS, e- mails e telefonemas. A prática não é novidade, mas a reincidência continua fazendo muitas vítimas na capital, o que tem preocupado a Polícia Civil.

Não por acaso a corporação criou, no dia 30 de março deste ano, a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), marcada para iniciar os atendimentos na próxima segunda-feira. “Estamos nos estruturando. No total, a equipe será formada por 15 agentes, sendo dois delegados, 11 agentes e dois escrivães. Teremos duas frentes de trabalho envolvendo o universo cibernético. A primeira será de apoio às outras delegacias em casos de crime contra a honra e fraudes. Já a segunda será voltada para as investigações especializadas. Portanto, vamos atuar nas áreas de ataques e moedas virtuais, fraudes bancárias e invasão de dispositivos de informática”, explica o titular da DRCC, delegado Giancarlos Zuliani.

Em teste

Segundo ele, no primeiro trimestre de funcionamento, a delegacia espera atender 124 ocorrências por mês, ou seja, 372 no total. “Os casos virão de outras delegacias para testarmos a capacidade da nossa equipe ao atuar na primeira frente de investigação. Ainda é um teste”, reafirma Zuliani.

Já na segunda frente, o delegado explica que os ataques virtuais normalmente estão relacionados ao chamado “software ransomware”. “São mais de 400 tipos de vírus, uns mais avançados e outros mais simples, que se instalam no servidor de uma empresa e, em um determinado momento, dispara e começa a criptografar todos os arquivos da instituição. É um processo lento, o que explica acontecer com mais frequência aos fins de semana. Na segunda-feira, a empresa recebe uma mensagem pedindo um determinado valor para ter acesso à senha do sistema novamente e, dessa forma, liberar o arquivos criptografados. É um transtorno para os empresários, já que os dados permanecem intactos, porém, inacessíveis. É algo que pode ser feito por um funcionário, por exemplo. A nossa atuação será fundamental”, completa.


Saiba mais
Procurada, a Secretaria de Segurança informou que os golpes virtuais entram nas estatísticas de estelionato. Entre janeiro e março deste ano, foram registradas 3.624 ocorrências de estelionato em todo o DF. No mesmo período do ano passado, foram 3.406. Já em todo o ano de 2016, o número foi de 13.673 ocorrências e, em 2015, chegou a 10.934. Cheques e cartões clonados ou adulterados, além de bilhetes ‘premiados’, estão entre os golpes.
Em nota, a Gerência de Segurança da BRBCARD informa que está ciente do envio de SMS a clientes, que são direcionados a páginas falsas e, posteriormente, induzidos a divulgar seus dados. “Alertamos que a BRBCARD não envia SMS de números de celular. Portanto, orientamos os clientes que acessem seus dados pessoais por meio do aplicativo oficial ou na página do banco”, destaca o BRB. Em caso de dúvida, o cliente pode contatar a Central de Atendimento (4003-400).
Já a assessoria do Banco do Brasil informa que realiza periodicamente ações nas principais redes sociais para explicar a forma de agir dos fraudadores, além de dar dicas de prevenção.

Mensagens falsas de bancos

Mensagens de celular supostamente enviadas pelos bancos de Brasília (BRB) e do Brasil (BB) comprovam um cenário de golpes no DF. Em ambas, o usuário é informado que seu cartão de crédito foi bloqueado por motivos de segurança e indica um link para solucionar o problema. Segundo o delegado Marcelo Portela, chefe da Coordenação de Repressão a Crimes contra o Consumidor, a Ordem Tributária e Fraudes (Corf), atualmente, oito modalidades de fraudes deixam a corporação em alerta.

São elas as promoções relâmpago de programas de televisão; pedidos de ajuda de falsos parentes; ofertas de empresas de telefonia; anúncios em listas telefônicas; pesquisas para a obtenção de dados pessoais; publicidade em geral; empresas de cobrança ou cartórios e recebimento de ações judiciais.

“Este último está entre os mais comuns. As vítimas, normalmente, são mais velhas e acreditam no recebimento do dinheiro de um processo prometido há anos. Também não podemos esquecer do golpe dos falsos sequestros. Eles permanecem no topo das ocorrências”, destaca Portela.

Segundo o delegado, as fraudes seguem o mesmo padrão. “Elas se repetem porque as vítimas continuam caindo. Mais do que isso, ao aumentar a conectividade da população, as possibilidades disparam, principalmente, em transações bancárias”, completa.
Ainda assim, a Polícia Civil alega dificuldade para monitorar os casos. “As pessoas não têm costume de registrar ocorrência, o que impacta no trabalho de estatística, investigação e prevenção. É importante ressaltar que, ao receber uma mensagem duvidosa, o usuário já é considerado uma vítima”, diz.

Portela frisa ainda que, por mais que o criminoso se sinta protegido pela sensação de anonimato, todo crime deixa rastros. “Conseguimos fazer o mapeamento. Portanto, quando o fato é comunicado à polícia, as chances de êxito são enormes”, afirma.

Ele aponta para uma dica infalível: desconfie de ofertas fora da realidade. “Tudo o que é fácil demais é golpe. E, se não for, procure confirmar antes de tomar qualquer decisão. Bancos não mandam mensagem para avisar sobre bloqueamento, eles pedem que o cliente compareça pessoalmente a uma agência ou ligue para o número que está gravado no cartão”, acrescenta.


PREVENÇÃO

Em breve, a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos vai lançar cartilha com dicas de prevenção. O delegado Giancarlos Zuliani, no entanto, adiantou o que considera essencial no combate às ocorrências. Ele destaca que é preciso evitar fotos e vídeos íntimos ou se certificar de que o material não vai vazar. E acrescenta que as denúncias podem ser feitas no site da PCDF ou pelo número 99626-1197.

Até quinta-feira, Brasília sedia a Conferência Internacional de Perícias em Crimes Cibernéticos como forma incentivar as discussões sobre o tema. Será no Hotel Royal Tulip Brasília Alvorada (SHTN Trecho 1), das 7h às 18h.

Foto: Divulgação
JBR