Parque de diversões veio para Brasília em 1964 e, desde 1978, ocupa o Parque da Cidade. Playground tem cerca de 2,5 mil visitantes por mês.

Por Letícia Carvalho, G1 DF

Carrossel da Nova Nicolândia (Foto: Letícia Carvalho/G1)

Palco dos primeiros beijos de muitos brasilienses, de fotos de prévias de casamento e de festas infantis, o Nicolândia, hoje intitulado Nova Nicolândia, resistiu ao tempo e às crises econômicas e, atualmente, exibe um crescimento de receita diferente de outros parques de diversões do país.

Enquanto Playcenter e Hopi Hari, antigos ícones de São Paulo, fecharam as portas, o exemplar da capital federal ostenta cifrões que possibilitaram, nos últimos anos, investimentos em infraestrutura e a aquisição de novos brinquedos. Somente nos cinco primeiros meses de 2017, duas estruturas foram inauguradas: o Disko e Trem Fantasma. Com as novidades, o espaço acumula, ao todo, 28 atrações.

Em entrevista ao G1, Marco Antônio Gomes de Souza, 41 anos, – um dos donos do local –, titubeou ao indicar o faturamento anual da empresa. No fim da entrevista, ele disse que faturou, em 2016, cerca de R$ 1,2 milhão. Segundo o empresário, antes das reformas, o Nicolândia fechava, anualmente, o caixa com aproximadamente R$ 80 mil.

“Sem dúvida, hoje, o parque vive o seu auge”, disse Marco Antônio.

Desde 2001, o playground é administrado por Marco Antônio, ao lado do irmão Marcelo Márcio Gomes de Souza, 45, e da mãe Maria Gomes, 63. Os três assumiram a liderança da empresa após o patriarca da família, Antônio Hilário de Souza, falecer.

O parque é administrado por Marcelo Márcio Gomes de Souza, Maria Gomes e Marco Antônio Gomes de Souza (Foto: Arquivo pessoal )

Marco Antônio apontou que, a partir de 2001, o Nicolândia passou por um processo de renovação e, ao longo dos anos, todos os brinquedos foram trocados. O parque, que fincou sua placa em Brasília há 39 anos, viveu altos e baixos dignos de uma montanha-russa.

Sensação das crianças e adolescentes brasilienses em 1990, o espaço registrou acidentes na década seguinte que quase o levaram ao esquecimento. A recuperação do prestígio veio com o investimento em melhorias no local.

O aposentado Sebastião Gregório da Silva, 77 anos, presenciou alguns dos loopings vividos pelo Nicolândia. Para incrementar a renda, ele vende, há três anos, balões em uma das entradas do parque, mas, durante 25 anos, cuidou de uma barraca de jogos, comercializou algodão-doce e foi pedreiro do centro de diversões.

Sebastião Gregório da Silva vende balões em uma das entradas da Nova Nicolândia (Foto: Letícia Carvalho/G1)

“Parque vive de altos e baixos. O Nicolândia nasceu pequenininho e olha só o tamanho dele agora. Brasília não tem muitas opções de lazer”, disse Silva.

O espaço ganhou um nome novo, o piso de brita foi substituído por calçadas e o número de visitantes subiu de 1,5 mil pessoas por mês, em 1990, para 2,5 mil, atualmente. Alguns dos tradicionais brinquedos, como o Tapete Voador que permeava o imaginário de muitos candangos, deram lugar a outras atrações, marcadas por sons e luzes pirotécnicas.

A roda gigante da Nova Nicolândia foi inaugurada em 2014 com as cores da bandeira do Brasil para atrair os turistas durante a Copa do Mundo (Foto: Letícia Carvalho/G1)

Para manter toda a estrutura e os 100 funcionários que trabalham no local, Marco Antônio apontou que é necessário desembolsar altas quantias – o valor, no entanto, não foi dito. “Muitos dos brinquedos que chamam a atenção do público não são fabricados no Brasil e para trazê-los pagamos uma taxa de importação absurda. Para empreender neste país tem que ser herói.”

Infância dos brasilienses

A reportagem visitou o espaço em 14 de maio. Mesmo sob uma temperatura de 30°C, famílias, grupos de adolescentes e casais se enfileiravam nas catracas para aproveitar as atrações do playground. De quinta a sexta-feira, o “Passaporte da Emoção”, que dá direito a todos brinquedos do local, custa R$ 20. Aos sábados, domingos e feriados, esse valor sobe para R$ 50.

Na saída do Grand Prix (bate-bate), estavam as amigas Danielle Belga, 45 anos, e Alessandra Andrade. Elas levaram os filhos para aproveitar a tarde de domingo no coração do Parque da Cidade. “O parque fez parte da minha infância e quero que ele faça parte da infância dos meus meninos também. É diversão obrigatória para a criançada em Brasília”, disse Alessandra.

Danielle Belga e Alessandra Andrade levaram os filhos para aproveitar as atrações do Nicolândia (Foto: Letícia Carvalho/G1 )

Sentado na praça de alimentação, Paulo Roberto Gonçalves, 60 anos, contava aos netos sobre os brinquedos antigos que mais gostava. O empresário chegou a Brasília no mesmo ano em que o Nicolândia aterrissou no Parque da Cidade: em 1978.

“Visitei aqui pela primeira vez quando era jovem, trouxe meus filhos e, agora, meus netos. O Nicolândia faz parte do imaginário de todo brasiliense.”

Do Rio de Janeiro para a capital do país

O parque nasceu no Rio de Janeiro. Antônio Hilário de Souza, chamado de “Seu Nico”, decidiu percorrer o país com o mundo de diversão que batizou com seu apelido. Em uma passagem por Goiânia, ouviu que a poucos quilômetros dali seria inaugurada a nova capital do país.

Decidiu, então, em 1964, fixar o Nicolândia na cidade sonhada por Juscelino Kubitschek. O playground chegou a ocupar um espaço ao lado da Igrejinha da 307/308 Sul e também um estacionamento próximo à Torre de TV.

Quando Brasília começou a ganhar ares de maioridade, em 1978, Seu Nico recebeu o convite para transferir seus brinquedos para o Parque da Cidade, junto com a inauguração da área verde, que originalmente recebeu o nome de Rogério Pithon Farias.

Donos do parque guardam fotos antigas do Nicolândia (Foto: Arquivo Pessoal)

De acordo com o empresário Marco Antônio, para usar os 20 mil metros quadrados do Parque da Cidade, ele paga mensalmente R$ 6 mil ao Governo do Distrito Federal. A administração regional de Brasília informou que a licença de funcionamento do Nicolândia foi renovada em 2013 e segue em vigência.

O parque de diversões que, no passado, foi itinerante, resgatou traços de sua origem. Além das atrações disponíveis no Parque da Cidade, o 
Nicolândia lançou, em 2017, uma estrutura com brinquedos mais simples para percorrer regiões administrativas do DF afastadas do Plano Piloto e cidades do Entorno.

Carrossel antigo do Nicolândia (Foto: Arquivo pessoal)