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O Setor Comercial Sul (SCS) é conhecido por ser um dos lugares mais movimentados de Brasília. Por lá estão instaladas empresas de mais variados portes e de muitas áreas. Comércio, escritórios, órgãos públicos, autarquias compõem o setor que também tem lá seus defeitos. Muito já foi reclamado sobre a presença de drogas, prostituição e criminalidade na região. 

Empresários comerciantes são os que mais sofrem por estarem expostos a todo e qualquer tipo de problema. No momento, a questão mais incômoda está ligada à desorganização de um local que deveria estar ali para trazer melhorias sociais, mas que tem aborrecido quem está por perto e que de mãos atadas acabam por decidir encerrar as atividades ou mudar de endereço.

Na Quadra 5 está instalado o Centro de Atenção Psicossocial para Usuários de Álcool e Outras Drogas Candango (CAPs AD III), transferido em 2014, como substituição ao que funcionava na Rodoviária do Plano Piloto. A instituição acolhe usuários de álcool e drogas, com atendimento 24 horas por dia. Contudo, o que se vê é que os usuários de entorpecentes acampam nas proximidades e trazem ao lugar desordem e prejuízos. 

De acordo com dados da Secretaria de Saúde, o CAPs é a referência no atendimento à dependentes de álcool e drogas na rede pública do Distrito Federal, que funciona com acolhimento, em horário próprio, em que são definidas as melhores estratégias para acompanhamento dos pacientes, com profissionais de diversas especialidades da saúde, incluindo médico psiquiatra.

Mas a demanda é clara. Os frequentadores e, especialmente, os comerciantes têm muitas reclamações e não veem a hora que o GDF retire o órgão do SCS. “Por estar há muitos anos aqui e representar essa área do Setor Comercial, já recebi mais de 30 lojistas se queixando de desordem nas proximidades. Um breve levantamento feito nos restaurantes mais próximos nos fez chegar ao percentual de 40% na queda de público. As pessoas deixam de vir se alimentar por acharem que a situação está complicada por aqui”, conta Udiléston Pinho, proprietário de um restaurante próximo à CAPs.

O Setor passou por diversas mudanças nos últimos anos. O governo e Administração de Brasília desobstruíram calçadas, retiraram os camelôs, melhoraram a iluminação pública, afastaram a prostituição, mas algumas questões ficaram a desejar. “Nesse momento o governo está fazendo a coisa certa no lugar errado. É inaceitável e inacreditável que tenha um centro de tratamento de dependentes químicos, que faz aglomerar elementos que estão ali praticando pequenos crimes no dia a dia, afastando toda a clientela da região”, reclama Cleber Pires, presidente da Associação Comercial do Distrito Federal. “O governo precisa tirar o CAPs daqui. Os restaurantes, as lojas, as lanchonetes e até os bancos sofrem com o esvaziamento de público causado pelas abordagens dos pedintes, o que atormenta a todos nós”, conclui Pires. 

Polícia com dificuldades para atuar

Dentro da expectativa direcionada ao que é possível ser feito pela Polícia Militar está o combate a qualquer crime. Mas quando uma parcela dos envolvidos com a criminalidade é menor de idade os policiais se veem limitados, especialmente quando apreendem algum jovem por prática ilícita. “Efetuamos prisões, mas os representantes dos Direitos Humanos, que estão sempre aqui por perto, nos questionam sobre tudo o que ocorre nas adjacências. Há uma fiscalização sobre a Polícia Militar que atua no SCS. Nós até já levamos a demanda para nosso comando analisar e tomar providências, caso sejam necessárias e possíveis”, conta o sargento Canamari, que atua no posto policial da quadra.

O consumo de bebidas alcoólicas pode ser visto em qualquer local. “Observamos a todo tempo o uso de bebidas sendo que se trata de uma área de tratamento para problemas de saúde, muitas vezes ligados ao consumo de álcool”, conta. 

Outra reclamação é a falta de higiene e sujeira que ficam nos acessos aos subsolos e escadarias nas entradas dos estacionamentos, além da prática de atos impróprios. “Há casos em que comerciantes ao abrir as lojas pela manhã se depararam com cenas de sexo. Não há nada contra a ação de oferecer tratamento. O problema está no local escolhido para situar tal órgão”, conclui.

Comerciantes pedem socorro

Tudo o que ocorre nas proximidades deixa os comerciantes tensos. Há relatos de prática de sexo à luz do dia, brigas e desentendimentos, tráfico de drogas e violência contra mulheres. 

Outro fator que deve vir a público é que instituições de caridade oferecem alimentação, roupas e cobertores para quem está em situação de rua e os atendidos dispensam essas doações em qualquer local. Isso acaba criando pontos em que o cheiro é insuportável, além de tornarem-se locais onde se acumulam ratos, e pior, viram ambientes onde guardam armas e drogas. Esse local é inviável para quem quer recuperação.

Uma jovem que trabalha no SCS e que preferiu não se identificar reclama das constantes ameaças sofridas durante o dia de trabalho. “Aqui é difícil demais, porque quando chegamos para trabalhar o cheiro é péssimo. Quando vamos embora é o medo que impera”, relata.

Para Udiléston Pinho, não há nada que desabone o trabalho do órgão, mas os resultados não são os bons para o setor. “A administradora do CAPs, Maria Garrido, se esforça e tem um ótimo desempenho, afinal é um trabalho que sou a favor e que apoio, porém tem que ver onde será colocado esse pessoal, porque está atrapalhando nosso comércio”, finaliza o empresário.

Entenda o CAPs

Um Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) é um serviço de saúde aberto e comunitário fomentado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É referência em tratamentos para transtornos mentais e dependentes químicos. 

O objetivo dos CAPS é oferecer atendimento à população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É um serviço de atendimento de saúde mental criado para ser substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos.