Pintora Júlia dos Santos, criada no DF, expõe cerca de 40 pinturas com bandeirolas juninas. Artista vive na Holanda desde 1996 e cria obras de caráter lúdico.

Por Luiza Garonce, G1 DF

Artista plástica Júlia dos Santos Baptista expõe em Brasília (Foto: Ingrid Bouws/Divulgação)

A artista brasiliense Júlia dos Santos Baptista, que vive na Holanda, exibe cerca de 40 pinturas na mostra “Bandeirinhas, dançando no ar”, que resgata o imaginário folclórico brasileiro em uma série de quadros com bandeirolas juninas. A exposição fica em cartaz no Espaço Cultural do Superior Tribunal de Justiça até 23 de agosto. A entrada é gratuita.

A mostra em cartaz, segundo ela, tem caráter educativo e privilegia, principalmente, o universo infantil – explorado pela artista ao longo de toda a carreira. “Alguns [trabalhos] são mais políticos, outros de caráter cultural e urbano, como o crescimento acelerado das grandes cidades, a maternidade infantil. Sempre tentando conquistar o universo infantil.”

Tela da exposição "Bandeirinhas, dançando no ar", da artista plástica Júlia dos Santos Baptista (Foto: Júlia dos Santos Baptista/Arquivo pessoal)

A artista vive em Amsterdã, na Holanda, desde 1996 e vem quase todos os anos a Brasília para visitar a família e expor obras. No país europeu, ela se casou, teve dois filhos e montou o ateliê, onde cria obras plásticas que incluem pintura, escultura e costura. Algumas, por deleite próprio, fazem parte do acervo exclusivo de casa.

Júlia contou ao G1 que, nos primeiros anos fora do Brasil, quando a comunicação ainda era uma fronteira a ser cruzada, a pintura cumpriu a função de linguagem. “Era uma forma de me expressar para minha família e amigos de lá.”

Obra da mostra "Bandeirinhas, dançando no ar", da artista plástica Júlia dos Santos Baptista (Foto: Júlia dos Santos Baptista/Arquivo pessoal)

Olhar dedicado

Por meio da pintura, Júlia tenta provocar nas crianças e jovens o olhar crítico que não lhe foi permitido na infância. De família humilde, a artista nasceu no Núcleo Bandeirante – reduto de nordestinos na época da construção de Brasília – e foi criada em Ceilândia, hoje a região mais populosa do DF e onde há a maior concentração 
de pessoas de baixa renda.

Obra "Catedral de Renda de Brasília" da artista plástica Júlia dos Santos Baptista (Foto: Júlia dos Santos Baptista/Arquivo pessoal)

“Meus pais fizeram parte da leva de nordestinos que veio trabalhar na construção da cidade. Se conheceram aqui e tiveram cinco filhos. Eu fui a única mulher”, disse Júlia ao G1. Segundo ela, as primeiras pinturas profissionais resgatavam memórias da infância na Brasília recém-nascida, que os pais ajudavam a erguer.


“Eram imagens alegres e fortes.”
Obra "Igrejinha", da Coleção Brasília da artista plástica Júlia dos Santos Baptista (Foto: Júlia dos Santos Baptista/Arquivo pessoal)

Apesar das boas lembranças, Júlia também rememora as dificuldades que enfrentou durante a juventude para obter uma formação educacional completa. Estas recordações não vão parar na ponta dos pincéis e, em vez disso, transformam-se em estímulo para fazer da própria arte um mecanismo de educação e incentivo ao pensamento crítico.

“Tive dificuldades para ter uma educação completa. Hoje, observando a educação dos meus filhos, vejo o quanto me faltou. Vejo que pequenas intervenções certamente teriam preenchido o grande ‘gap’ [buraco] que sinto até hoje na minha formação.”

“Esta consciência me trouxe a preocupação permanente de tentar suprir de alguma maneira a educação das crianças.”

Obra "Alvorada", da Coleção Brasília da artista plástica Júlia dos Santos Baptista (Foto: Júlia dos Santos Baptista/Arquivo pessoal)

Neste sentido, a pintora busca fazer exposições, palestras e bate-papos em ambientes escolares tanto no Brasil, quanto na Holanda. Em 2012, por exemplo, Júlia assinou as ilustrações de um livro didático da historiadora Patrícia Ramos Braick.

Presente à capital

Desde 2005, Júlia cria obras para a “Coleção Brasília”, uma série de telas de linho pintadas com tinta a óleo cujas formas e cores se inspiram no patrimônio arquitetônico e humano da capital federal. Segundo a artista, todos os anos uma nova criação passa a integrar a coleção, como se comemorasse o aniversário da cidade com um trabalho.

“Quando fui morar na Europa, sempre quis presentear minha cidade natal. As telas são presentes de aniversário. Também queria que meus filhos conhecessem Brasília pelos meus olhos, então comecei a contar isso por meio das pinturas.”

Imagens de obras da Coleção Brasília, da artista plástica Júlia dos Santos Baptista, em viaduto em Amsterdã, na Holanda (Foto: Júlia dos Santos Baptista/Arquivo pessoal)

As obras dialogam com as formas e cores dos monumentos e prédios e com a ocupação dos espaços públicos por quem circula pela cidade. Nos quadros, estão presentes os tons ocres e verdes do paisagismo, o azul límpido do céu da capital e o cinza do concreto.

“Em uma a catedral é de renda, para homenagear as rendeiras de Minas Gerais. Em outra, os Dois Candangos usam chapéus de cangaceiros. Todas têm elementos típicos do universo pictórico dos brasilienses”, explicou.