Grupo foi aceito em projeto patrocinado pela Nasa, e fará filmagem inédita do fenômeno. Alunos desenvolveram plataforma que será lançada à atmosfera em um balão, no próximo dia 21.

G1

Estudantes da Universidade de Brasília (UnB) embarcam nesta quinta-feira (17) para uma missão inédita, nos Estados Unidos, com pesquisadores da Nasa. Os alunos, ao lado do professor de engenharia elétrica Renato Alves Borges, serão os únicos do mundo a filmar o grande eclipse solar que ocorrerá nos Estados Unidos, no próximo dia 21, em 360 graus.

O equipamento candango terá o privilégio de gravar, por vários ângulos, os momentos em que a Lua vai se interpor entre a Terra e o Sol, escondendo-o por completo. A plataforma vem sendo desenvolvida pelo grupo desde 2013.

Batizada com o nome de Kuaray – que significa sol na língua guarani –, a missão nasceu em 2016 em parceria com integrantes do Clube de Astronomia de Brasília. Após ajustes e quatro testes, a quinta versão do artefato, chamada de LAICAnSat-5. Ao todo, 50 balões vão levantar voo para desvendar a estratosfera da Terra, com equipes de universidades americanas – que não farão registros em 360º.

“Essa será nossa primeira grande missão. É um desafio relevante no ponto de vista científico e poderá servir à comunidade”, afirmou o professor Renato Borges, coordenador do projeto LAICAnSat.

Enviado em um balão estratosférico, o LAICAnSat-5 atinge até 30 km de altura. A estrutura pesa cerca de 3 km e também coleta dados de temperatura, pressão atmosférica, umidade e velocidade dos ventos.

“Vamos usar a plataforma LAICAnSat-5 para acompanhar o eclipse total do sol nos Estados Unidos, e filmá-lo de uma forma que ainda não foi feita até hoje no mundo”, disse Augusto Ornellas, presidente do Clube de Astronomia de Brasília.

O vídeo de realidade virtual será disponibilizado gratuitamente na web. A equipe também estuda a proposta de fazer filmes com as gravações para o Planetário de Brasília.

O convite

No início deste ano, os pesquisadores – estudantes de engenharia aeroespacial, mecatrônica, elétrica e eletrônica, alunos do curso de pós-graduação em engenharia de requisitos e de produto, e quatro professores – receberam a notícia de que o LAICAnSat-5 tinha sido aceito na missão Eclipse Ballooning Project, patrocinada pela Nasa.

O grupo, então, travou uma luta contra o tempo para aprimorar a estrutura e juntar o dinheiro necessário para viajar aos Estados Unidos.

Há dois meses, durante a abertura da Campus Party, em Brasília, os integrantes do projeto lançaram uma vaquinha virtual para arrecadar R$ 18 mil e bancar passagens e hospedagem. Eles conseguiram apenas R$ 3,8 mil e, por isso, decidiram reduzir a equipe que viajará para o país norte-americano.

“A equipe que viajará vai representar o grupo como um todo”, disse o docente Renato Borges.

“Os recursos financeiros da universidade estão cada vez mais limitados. Por isso, a gente teve essa ideia. Conseguimos até contato com empresas privadas, mas por causa do tempo, não conseguimos viabilizar a parceria”, apontou a aluna do mestrado em sistemas mecatrônicos da UnB Lorena Tameirão, de 27 anos.

O projeto ainda conquistou apoio do departamento de engenharia elétrica, do programa de pós-graduação em engenharia de sistemas eletrônicos e de automação (Pgea) e do Clube de Astronomia de Brasília. O Grupo Mutum de Rádio Expedição também é um dos parceiros do Kuaray.

Primeira viagem de avião

Lorena Tameirão estará na tripulação rumo à cidade de Rexburg, em Idaho – local onde o grupo ficará acampado para ver o fenômeno astronômico. Ao lado dela, estará a estudante de engenharia mecatrônica Stephanie Cardoso Guimarães, de 21 anos.

Responsável pela parte eletrônica do equipamento, Stephanie não só participará da missão da Nasa, como viajará pela primeira vez de avião.

Matheus Filippe Santos Alves e Stephanie Cardoso Guimarães: a dupla ajudou a desenvolver o equipamento. Os dois estão na equipe, que vai acompanhar o eclipse solar nos EUA (Foto: Arquivo pessoal )

“É emocionante participar de um projeto deste, com a Nasa... vai para o currículo, né?”

O estudante de engenharia aeroespacial Matheus Filippe Santos Alves, 21 anos, também embarcará rumo aos EUA. Durante a entrevista ao G1, o jovem não escondia o entusiasmo em poder participar dessa expedição.

“Poder falar que você participou de algo grandioso e ainda patrocinado pela Nasa é sensacional, não tem explicação. Participar disso não tem preço para o currículo e para a vida.”

O eclipse

Na próxima segunda (21), os moradores dos Estados Unidos verão um sol negro. É o eclipse solar total, um dos fenômenos mais aguardados pela agência espacial americana (Nasa) neste ano. No Brasil, ele será visto de forma parcial – quanto mais ao Norte, mais coberto estará o sol.

A última vez que a maioria dos norte-americanos experimentou um eclipse total foi em 1991. Neste ano, de acordo com a Nasa, o fenômeno poderá ser observado por 500 millhões de pessoas de forma total ou parcial: 391 milhões nos Estados Unidos, 35 milhões no Canadá e 119 milhões no México (além da América Central e parte da América do Sul).

O trecho mais intenso para a observação vai de Lincoln Beach, no Oregon, até Charleston, na Carolina do Sul. Nesta região, o sol ficará completamente preto durante pouco tempo: 2 minutos e 40 segundos – a transição completa será de mais de 4 horas.

A expectativa para presenciar o fenômeno é grande. Na faixa de terra em que ocorrerá a escuridão, os hotéis estão cheios há meses. A pesquisa "eclipse 2017" no Google produziu mais de 35 milhões de acessos.

Em 2018, a Terra não terá eclipses totais – em que o sol é totalmente coberto. O próximo ocorre em 2 de julho de 2019 e mais perto: terá mais abrangência no Brasil e seu trajeto de escuridão será na América do Sul.