Foto: Jornal de Brasilia

Só tem direito a receber os R$ 600 mensais quem estiver sendo acompanhado por meio de um dos serviços de assistência da Sedestmidh.
Depois de um dia de trabalho, chegar em casa e descansar sob um teto é o desejo de todos, mas não a realidade. Milhares de pessoas que não têm residência própria ou dinheiro para manter um aluguel recorrem a um ambiente bem mais inóspito: a rua. A parte dessas pessoas é concedido o aluguel social, benefício temporário do governo, que se estende também a quem perde o lar por catástrofes naturais. Enquanto a busca pelo auxílio sobe significativamente, constantes atrasos nos repasses dificultam a relação entre beneficiários e seus locatários.

Com a crise econômica e o desemprego atingindo em cheio a capital, de 2016 para 2017, houve um aumento de 51,12% no número de benefícios pagos pelo governo. Pulou de 5.330 para 8.055 a quantidade de pessoas atendidas. Ao todo, foram R$ 4,772 milhões investidos no projeto em 2017, contra R$ 3,132 milhões no ano anterior – um crescimento, também, de mais de 50%.

Até maio deste ano, os dados mostram que 392 pessoas foram atendidas, e gastos R$ 230,9 mil. Só tem direito a receber os R$ 600 mensais quem estiver sendo acompanhado por meio de um dos serviços de assistência da Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh).

Inicialmente, a pessoa tem direito ao benefício apenas por seis meses. Se o solicitante estiver habilitado para os programas de habitação da Companhia Habitacional do Distrito Federal (Codhab), ele pode ter esse período estendido por mais um semestre.

Quem tem a casa destruída por um algum tipo de problema natural, como chuva intensa, queda de barranco, entre outros, também pode usufruir.

O estudante Plínio do Carmo Limoeiro, 28, recebeu o aluguel social. Nascido na Bahia, ele chegou a Brasília com a irmã, em 2009. A promessa era de que no DF haveria mais emprego do que em Salvador. Nos primeiros anos, até conseguiu uma ocupação. Foi servente de pedreiro, caseiro de uma chácara em Sobradinho e também participou da coleta seletiva.

Porém, em 2015, o desemprego bateu à porta e, sem dinheiro, foi despejado do teto que tinha e começou a morar na rua. Foram três longos anos dormindo onde dava até ficar sabendo do trabalho do Centro Pop, instituição da Sedestmidh responsável pelo acolhimento de pessoas em situação de rua.

Em 2016, ele foi beneficiário do aluguel social por seis meses, enquanto trabalhava na revista brasiliense Traços, criada para auxiliar na visibilidade e geração de renda para pessoas como Plínio. Assim, conseguia dinheiro para não ficar na rua. De lá para cá, ele passou um ano e meio em São Sebastião e, há cinco meses, mora em um quarto na Asa Norte, por R$ 400 mensais.

De volta aos estudos

“Com minha casa, consegui voltar a estudar. Fiz vestibular e passei para técnico em Automação. Antes, eu não conseguia fazer inscrição. Perdi a vaga quando passei pela primeira vez em Gestão Pública no IFB (Instituto Federal de Brasilia). Agora, posso interagir com a sociedade. Estou feliz”, destaca Plínio Limoeiro, que, durante o dia, vende as revistas pela cidade e, à noite, estuda na Estrutural.

Ele fala com muito orgulho do espaço que tem, mesmo que limitado. Cabe apenas uma cama, uma escrivaninha, algumas roupas e sapatos. O mais importante, no entanto, é poder chegar em casa, cansado de um dia de trabalho e estudo, cair na cama e olhar para o teto branco. A cama e o teto tomaram o lugar do céu estrelado e do chão frio. E que bom por isso.

Demora atrapalha quem recebe

Apesar dos benefícios, os atrasos no recebimento do aluguel social dificultam a vida de quem o utiliza. O vendedor autônomo, Pablo Mateus Ramos, de 23 anos, começou a receber a quantia em maio deste ano e diz que enfrenta complicações para conseguir pagar o aluguem em dia.

“Meu aluguel venceu no último dia 7, mas até agora (20) o dinheiro não saiu. O dono da casa não quer saber se você está com dificuldades ou sem dinheiro, ele quer saber de você pagar”, afirma.

Segundo Pablo, o auxílio é essencial para que ele se matenha longe das ruas. Ele pede que essa dificuldade no pagamento do aluguel social seja consertada para que os que o recebem não fiquem com o nome “sujo” perante os locatários.

Balas no semáforo

Assim como Plínio, o vendedor também paga R$ 400 por um quarto na Asa Norte, sem contar as contas de água e luz. Com o atraso do auxílio, Pablo só conseguiu pagar o aluguel deste mês porque vende balas nos semáforos de Brasília.

O homem nasceu em Patos de Minas (MG) e saiu de lá no ano passado para tentar arrumar um emprego na capital do País.

Inicialmente, morou com o irmão, mas não havia como todo mundo ficar no mesmo lugar. Ficou um tempo na rua, começou a vender balas e atualmente tenta se sustentar dessa forma.

Pablo não sabe até quando vai ter essa rotina, mas espera fazer o maior proveito do tempo que recebe o auxílio de R$ 600 para arrumar um emprego fixo e ter a possibilidade de ceder sua vaga para outra pessoa sem lar.

Versão Oficial

Por meio de nota, a Sedestmidh informou que toda e qualquer pessoa pode requerer o auxílio excepcional. No entanto, tem que passar por um cadastro e, depois, entrevista com especialista de uma das unidades da secretaria (27 Cras, 10 Creas e 2 Centro Pop). Além disso, é preciso atenção para seguir todos os procedimentos já que, para que o processo ande normalmente, é necessário que a entrega da documentação seja a mais completa possível.

Além disso, a pasta assegura que todos os pagamentos são feitos mensalmente. Os que por ventura ainda não ocorreram vão ser concretizados ainda nesta semana, garante. Em relação aos atrasos alegados pelos entrevistados, a secretaria informou que é necessário entrar em contato com o Centro Pop no qual ele é cadastrado para descobrir o que ocorreu. Como os pagamentos mudam de data para cada beneficiário, é preciso que o recebedor procura uma unidade da secretaria.

Até o fechamento desta edição, os benefícios de Plínio e Pablo não tinham saído. Eles apenas obtiveram informações que o auxílio excepcional estava prestes a sair.

Fonte: Jornal de Brasília