'Noivas do luto' usaram cartazes para repudiar crimes e relembraram casos de violência no DF. Objetivo é incentivar mulheres a denunciar agressões

Por Maíra Alves*, G1 DF
Vestidas de noiva e com véus pretos, modelos plus size do Distrito Federal se reuniram na tarde desta quarta-feira (23) em frente ao Congresso Nacional em um protesto contra o feminicídio. As "noivas do luto" exibiram cartazes com frases como:
"O amor não pode ser até que a morte nos separe"
"Denuncie, não se cale"
"Se ele tem coragem de bater, você tem que ter coragem de denunciar"
Durante a manifestação, as modelos atraíram olhares de turistas que visitavam a capital (veja galeria de fotos abaixo). "Muy guapas [muito bonitas]", disse um visitante espanhol ao G1. Segundo a organizadora, Janaína Graciele, o objetivo era chamar a atenção para as altas taxas de feminicídio no Brasil.




"Não queremos mais essa ideia de 'até que a morte nos separe'. Quando os homens não aceitam o fim do relacionamento eles vão lá e matam, isso não pode mais acontecer. Temos que incentivar essas mulheres a denunciar", disse.


Modelo e organizadora Janaína Graciele em protesto contra o feminicídio — Foto: Maíra Alves/G1




Usando vestido preto para "simbolizar o luto", Janaína afirmou que o estopim para a manifestação veio quando "mulheres muitos próximas começaram a serem mortas".






"Nós, gordas, nos mantemos em relacionamentos ruins por acharmos que não conseguiremos nada melhor. Por causa disso, acabamos em relações abusivas."








"Vejo isso em 10% das meninas que participam do meu grupo. Queremos mostrar que podemos ser o que quisermos, que podemos nos separar e, principalmente, denunciar."




Modelo e microempresária Michelle Alves, de 35 anos, também participou do ato — Foto: Maíra Alves/G1




Em anos anteriores, as modelos já haviam reinvidicado a criação de um hospital de referência em obesidade em Brasília, lutaram contra a gordofobia e declararam apoio à Campanha Setembro Amarelo – de prevenção ao suicídio. Em todas as vezes, o palco do protesto é o gramado em frente ao Congresso, na Esplanada dos Ministérios.








Recorde de feminicídio








O ano de 2018 terminou com um triste recorde de mulheres assassinadas no Distrito Federal. De janeiro a dezembro, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) registrou 29 casos de feminicídio na capital do país – 11 a mais do que em 2017. O índice representa um assassinato de mulher a cada 12 dias, em média.




No ano anterior, 18 mulheres foram mortas e, em 2016, foram 19 vítimas. Levantamento do G1 revela uma alta de 61% neste tipo de crime nos últimos dois anos.




Com base na Lei de Acesso à Informação, o G1 teve acesso ao perfil dessas vítimas. Entre 2017 e 2018, 2 em cada 10 mulheres mortas tinham entre 25 e 30 anos. Outras 18 mulheres assassinadas tinham idades entre 41 e 45 anos.
Perfil das vítimas de feminicídio no DF
Mulheres foram mortas entre janeiro de 2017 e novembro de 2018
25 a 30 anos: 2041 a 45 anos: 1836 a 40 anos: 1356 a 59 anos: 1118 a 24 anos: 1151 a 55 anos: 731 a 35 anos: 700 a 05 anos: 716 a 17 anos: 2Maior de 59 anos: 246 a 50 anos: 2
Fonte: SSP/DF






Entre os casos mais recentes do DF, está uma tentativa de feminicídio cometida por um homem de 50 anos, nesta terça-feira (22). Ele descumpriu uma medida protetiva e tentou matar a própria mulher a facadas, em Samambaia.


Faca usada por homem preso em flagrante, no DF, por tentativa de homicídio — Foto: Polícia Civil/Divulgação




Adélio Bento dos Santos se apresentou à Polícia Civil depois do crime, e foi preso em flagrante. A vítima foi internada em estado grave no Hospital de Taguatinga. O homem foi preso em flagrante, e a arma do crime, apreendida.








Como denunciar






Modelo Ângela Maria Correia, de 50 anos, em protesto contra o feminicídio no DF — Foto: Maíra Alves/G1




O serviço do número 180 é gratuito, funciona 24 horas por dia e preserva o anonimato a quem denuncia. Segundo o governo federal, há muitas mulheres que ligam apenas para solicitar informações ou encaminhamento para serviços especializados.