A causa, diz a Saúde, é o déficit de profissionais. Lista de espera tem 102 pessoas

Com 4,6 mil médicos para atender os 21 hospitais do Distrito Federal, além das unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e centros de saúde, o cenário da saúde pública da capital está cada dia pior. Desta vez, segundo dados da própria Secretaria de Saúde, 22% dos leitos de unidades de Terapia Intensiva (UTIs) estão inativos por conta do déficit de profissionais. Ao todo, são 353 unidades, mas 68 estão desativadas, e outras dez estão em manutenção. Enquanto isso, 102 pessoas aguardam na fila.

O balanço foi obtido por volta das 17h de ontem e, segundo a pasta, o número muda a todo instante conforme a alta dos pacientes e a chegada de outros. Entre eles, Maria Clara Guimarães, de dez meses. Ela nasceu com uma doença chamada tetralogia de Fallot, uma malformação congênita do coração. Por isso, depende de aparelho de oxigênio.

A mãe da bebê, Neura Fernandes Guimarães, 31 anos, conta que a saga da família começou quando foi diagnosticada a necessidade de cirurgia para resolver o problema de Maria Clara. 

“Assim que ela nasceu, ficou 22 dias internada no Hospital de Ceilândia por conta da doença. Aí, surgiu vaga no Incor (Instituto do Coração), mas o médico avaliou e disse que não era necessário, naquele momento, fazer a cirurgia. Desde então, fazemos o acompanhamento até que, aos seis meses, foi constatado que era preciso fazer a cirurgia. Agora, ela está com dez meses e, oficialmente, estamos na fila há um mês”, diz. 

Diante da falta de respostas, Neura saiu do emprego para cuidar da filha. “Fiquei desempregada para estar sempre com ela. Ela ainda mama no peito e depende de mim para tudo”, relata. Agora, mãe e filha estão no Hospital de Ceilândia. 

“A gente está esperando. Amanhã, faz um mês que estamos aqui. E não podemos sair porque ela depende do oxigênio para respirar. Não pode se esforçar nem nada. Tudo é perigoso”, revela a mãe. “É muito cansativo, sabe? Tenho outro filho, de sete anos, as aulas começam agora e não posso estar perto dele. Fico aqui o dia inteiro rezando para sair essa vaga na UTI e acabar com essa agonia”, afirma a mãe.

Ações judiciais para conseguir vaga na rede

Neura Fernandes Guimarães, mãe de Maria Clara, de dez meses, recorreu à Defensoria Pública para conseguir o leito de UTI para a filha. Segundo o órgão, além dela, outras 76 pessoas buscaram apoio, apenas em janeiro, para assegurar uma vaga nos quartos de UTI. Dessas, 42 ingressaram com ações judiciais. 

“Parece piada, mas é verdade”, disse o coordenador do Núcleo da Saúde da Defensoria Pública do DF, Celestino Chupel. “É uma demanda bem substancial. Pessoas estão morrendo. Na prática, o que acontece é que uma grande parte dessas pessoas que aguardam UTI vem a óbito sem receber o tratamento”, salientou o defensor público. 

Em todo o ano de 2015, apontou Chupel, foram 801 pedidos de ações judiciais devido ao déficit de UTIs no DF. “Isso só aqui nesta unidade”, afirmou, destacando que esse é apenas um dos problemas na saúde pública do DF. “Aqui tem pedido de fornecimento de medicamentos, materiais, fraldas, transporte, tratamentos oncológicos”, acrescenta. “Mas, no plantão, a matéria de urgência é basicamente UTI”, completou.

Versão oficial

Por meio de nota, a Secretaria de Saúde informou que “está trabalhando para solucionar o déficit de profissionais em todas as áreas da saúde. A pasta avalia como prioridade a reabertura de leitos de UTI”. Neste mês, afirmou: “696 técnicos em enfermagem e 93 enfermeiros foram nomeados para repor o quadro de RH (recursos humanos), possibilitando a reabertura”. Além disso, “foram nomeados 591 médicos”. “O custo diário médio estimado do leito de UTI é de R$ 3.972,87, apurado em 2014”, disse o órgão. Segundo a pasta, os profissionais que trabalham para manter o funcionamento de um leito de UTI são médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fonoaudiólogos e fisioterapeutas.


Fonte: Da redação do Jornal de Brasília