Para cada campanha, foi associada uma cor: lilás, azul-marinho, vermelho, amarelo e verde, respectivamente.

Ação de atendimento da saúde da mulher na UBS 2 do Recanto das Emas. Foto: Sandro Araújo – Arquivo Agência Saúde DF.

A saúde da mulher é destaque no mês de março. Campanhas voltadas à prevenção de doenças como o câncer do colo do útero, colorretal e renal, além de endometriose e o cuidado com a saúde visual são promovidas durante todo o período.

Para cada campanha, foi associada uma cor: lilás, azul-marinho, vermelho, amarelo e verde, respectivamente. Além dos alertas relacionados à saúde, o mês de março também chama a atenção pelo fim da violência contra a mulher, marcada pela cor laranja.

Essa matéria tem foco no câncer do colo do útero, associado à cor lilás. A causa do tumor é a infecção recorrente do Papilomavírus Humano – HPV transmitido, na maioria das vezes, durante relação sexual. Em alguns indivíduos, o HPV pode desencadear alterações celulares, denominadas lesões precursoras, que podem evoluir para o tumor maligno.

O exame preventivo é o principal recurso para rastreamento de lesões. Quando as alterações que antecedem o tumor são identificadas e tratadas, é possível prevenir 100% dos casos. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) indica que o câncer do colo do útero é, no país, o terceiro tipo mais frequente e o quarto em motivo de mortes entre as pessoas que possuem útero, independente da identidade de gênero e orientação sexual, inclusive os homens transgêneros.

Nessa definição, estão os indivíduos que nasceram com o sexo biológico feminino, mas se identificam como o masculino.

No livro Saúde LGBTQIA+ Práticas de Cuidado Transdisciplinar, as autoras Andrea Hercowitz e Miranda Lima indicam que a população dos homens trans tem pouco acesso e baixa frequência de visitas aos centros de saúde, sentem desconforto com o exame preventivo e costumam associá-lo com a feminilidade.

Algo visto na prática pelos profissionais de saúde. É o que afirma Gustavo Nepomuceno, psicólogo que atende no Adolescentro, ambulatório especializado em saúde mental infanto-juvenil do DF. “Barreiras reais e vivências de violência dos homens trans, que não fizeram cirurgia de redesignação genital, fazem com que eles criem barreiras psicológicas, que são mecanismos de proteção”, argumenta o servidor.

São vários os motivos que justificam a baixa procura pelos serviços médicos por homens transgêneros, entretanto, eles também necessitam da prevenção e das consultas de rotina. É o que afirma a médica ginecologista Giani Cezimbra que também atende no Adolescentro. “Tem que ter toda uma delicadeza para tratar desse assunto, para realizar o exame preventivo, mas ele precisa ser realizado com a mesma frequência das mulheres por conta da presença do colo do útero e da atividade sexual”, argumenta.

De acordo com Giani, é necessário um acolhimento diferente para esses pacientes. “Essas pessoas normalmente já passaram por grandes dificuldades e enormes desafios e precisam de um olhar diferenciado”, afirma a médica.

Álvaro Colusso, médico ginecologista do Centro Especializado em Doenças Infecciosas (CEDIN) e do Ambulatório Trans do DF, afirma que muitos homens trans sentem-se inseguros e com receio em participar de consultas ginecológicas “Mas com um atendimento humanizado e esclarecedor essas barreiras desfazem-se”, explica.

Nas consultas, além da realização do exame, quando necessário, os profissionais costumam passar orientações gerais, como higienização adequada e cuidados contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). “Muitas vezes é nessa consulta que são identificadas outras doenças ou disfunções facilmente tratáveis com diagnóstico precoce”, finaliza Giani .

Fluxo de atendimento

O exame preventivo pode ser feito por livre demanda nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Para isso, tanto os homens trans como as mulheres precisam procurar a UBS mais próxima da sua residência. Enfermeiros e médicos de saúde da família são os profissionais que costumam coletar o material nos pacientes da Atenção Primária.

Caso o paciente receba o encaminhamento na UBS, poderá também realizar o exame preventivo nas consultas ginecológicas na Atenção Secundária. Em situação de exames alterados, o indivíduo é encaminhado ao serviço de colposcopia, disponível nos ambulatórios da atenção secundária, em todas as regiões de saúde.

*Com informações da Secretaria da Saúde