Famílias também recebem assistência social, qualificação e acolhimento; associação não conta com dinheiro público. Em 2011, grupo se uniu ao governo para construir Hospital da Criança; polêmica das OS 'não tem a ver', diz Ilda Peliz.

Por Mateus Rodrigues, G1 DF

A presidente da Abrace Ilda Peliz (Foto: Renato Araújo/Agência Brasília)

Com 31 anos de funcionamento e cerca de mil famílias assistidas simultaneamente, a única ONG do Distrito Federal a entrar para a lista das 100 melhores do Brasil, divulgada pela revista Época e pelo instituto Doar, não recebe dinheiro público. Em tempos de crise, mesmo com o aperto no orçamento dos brasileiros, a Abrace conta com cerca de 50 mil contribuidores, além de parceiros empresariais para manter o projeto.

A cada ano, a associação recebe cerca de 230 novos pacientes diagnosticados com câncer, e se despede de outros tantos que recebem a cura ou não resistem aos tratamentos. Como a assistência se estende às famílias desses pacientes, a instituição calcula cerca de 5 mil pessoas abraçadas pelas ações de assistência social, qualificação profissional dos adultos, acolhimento e cuidados paliativos, entre outras.

"Pra gente, essa premiação da Época tem um grande valor, não monetário, mas como um passaporte. Significa a legitimidade da nossa eficiência na área de saúde", diz a presidente da Abrace, Ilda Peliz. Ela comandou a associação nos últimos 20 anos, após perder a própria filha de 2 anos para um tumor no sistema nervoso.

Ilda Peliz na cerimônia de premiação das 100 melhores ONGs do país (Foto: Arquivo Pessoal)

Ilda afirma que todo o trabalho da Abrace é prestado pela sociedade, mas que a instituição também se encarrega de cobrar os deveres do Estado em relação a estes pacientes. O problema, segundo ela, é que essas ações são limitadas, frentes aos desafios de um diagnóstico de câncer.

"Por exemplo, o Estado garante o tratamento médico. Mas, se essa criança chegar em casa e tiver que dormir no chão, com mais três irmãos, dividindo um pedaço de espuma, a Abrace vai colocar uma cama para esse paciente, um banheiro nessa casa, garantir uma geladeira e energia elétrica para ela armazenar o medicamento", afirma.

Assim como acontece na rede pública "tradicional" do DF, a Abrace foi "forçada" pela demanda a atravessar as fronteiras da capital. Ilda afirma que Brasília é um "polo convergente" no tratamento de câncer e, por isso, recebe pacientes do Norte, do Nordeste e de estados como Goiás e Minas Gerais. Nestes casos, o apoio às famílias é ainda mais abrangente, e inclui hospedagem temporária, orientação e até lobby junto aos governos locais.
Criança recebe máquina de braille doada pela Abrace, em foto de arquivo (Foto: Edy Amaro/Divulgação)

"Imagine que uma criança do interior do Amazonas venha a Brasília para um tratamento, com um tumor no cérebro, com dor de cabeça. O prefeito paga uma passagem de barco, de ônibus, e a Abrace vai tentar convencê-lo a pagar a passagem aérea. Se ele não topar, a Abrace vai tentar pagar essa passagem."

Para Ilda, são histórias como essas que tocam o coração dos apoiadores da associação. Histórias como a de uma família da Amazônia que, frente à morte de uma criança com câncer, teve de lutar para conseguir enviar o corpo de volta à cidade de origem. Sem a contribuição dos doadores, o traslado não teria sido feito e a família teria perdido o direito a um velório digno.

"É incrível como as pessoas se solidarizam, quando a gente conta as histórias. Infelizmente, de cada 100, 30 vão a óbito. Se forem 30 de fora, a gente vai dar dignidade, vai mandar para enterrar."

Hospital da Criança



Entrada do Hospital da Criança, em Brasília (Foto: Rafaela Céo/G1)


Em 2011, a Abrace inaugurou no DF a maior obra desses 30 anos em funcionamento: o Hospital da Criança José Alencar. O primeiro bloco, em funcionamento há seis anos, foi construído com repasses da Secretaria de Saúde, do Ministério da Saúde e da sociedade civil. O segundo, ainda em construção, resultou de um convênio entre o governo do DF e uma ONG internacional.

Com 2,4 milhões de atendimentos no "currículo" até junho deste ano, o hospital se viu no centro de uma polêmica durante a gestão Rodrigo Rollemberg. O governo usou o centro de saúde como exemplo de boa gestão para propor a expansão das organizações sociais na saúde púbica. A proposta foi rechaçada, e um pente fino na OS que gerencia a unidade – o Icipe – revelou uma série de inconsistências, colocando todo o modelo sob dúvida.

Ao G1, Ilda disse acreditar que as investigações não atingiram a imagem do hospital e da Abrace, "porque são instituições diferentes. "O Icipe recebe recursos do Estado para administrar o hospital, a Abrace, não".

Presidente da Abrace discursa; Governador do DF Rodrigo Rollemberg, ao fundo (Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília)

"A gente lamenta muito a crise, as coisas estão caminhando, mas é muito difícil você querer fazer um trabalho e passar por mal-entendido na conduta desse trabalho. Criou-se isso por uma guerra política, um movimento político. Quem perde é a criança, porque há um desgaste das pessoas que estão ali atuando", diz a presidente.

Interessados em contribuir com a Abrace podem fazer doações mensais, semestrais, anuais ou "isoladas". Além de dinheiro, é possível doar móveis, produtos alimentícios e de limpeza, roupas e ação voluntária, entre outros. Detalhes sobre os canais de doação e as prestações de conta da associação estão disponíveis no site da Abrace, e pelo telefone (61) 3212-6000.