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Quase 90% das notificações de violência registradas pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal são contra mulheres adultas. Elas são maioria entre as agressões físicas, psicológicas, sexuais e até tortura comunicadas ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). No ano passado, uma média de quase dois casos por dia foi parar nas unidades médicas da capital, e cerca de 10% provocadas por parceiros.

Das 844 notificações recebidas de atendimentos de pessoas entre 20 e 59 anos, 715 eram mulheres e pelo menos 28 estavam grávidas. A região administrativa com maior número de casos é Samambaia (12%), seguida de Ceilândia (9,6%) e São Sebastião (7,4%).

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O período compreendido dos dados é de janeiro a agosto de 2017. Nesse intervalo, 222 mulheres e 36 homens foram atendidos por violência física; 109 mulheres e três homens por violência sexual, 103 mulheres e quatro homens por violência psicológica; e 14 mulheres e dois homens por tortura.

Os números incluem agressões de familiares, como pais e filhos, policiais, cuidadores e até lesões provocadas pela própria pessoa. No entanto, quase 10% dos suspeitos são ou foram cônjuges e namorados e mais de 60% dos casos ocorreram dentro de casa.

Foi na própria residência que uma bacharel em Direito de 30 anos passou por violência física e psicológica. Ela foi xingada, ameaçada e agredida pelo homem com quem se relacionou por três anos e meio. “Ele parecia uma pessoa centrada, carinhosa, cuidadosa. Mas a partir do primeiro ano começou a mostrar a verdadeira face, com ciúme excessivo, controlador e agressivo. As agressões foram contínuas. Começaram leves, até que houve empurrões, tapas, socos”, conta.

As tentativas de pôr fim ao relacionamento foram em vão. No pós- parto, ela foi jogada no chão e levou chutes na barriga pelo companheiro embriagado. Socorrida no hospital para investigar a gravidade, tomou remédios na veia. “Até hoje não sei o motivo”, garante. Para proteger a bebê, ela arremessou-a no berço.

A mulher se diz feminista e conhecedora dos direitos, mas ficou sem reação. “Eu sabia quais atitudes tomar, mas estava presa naquele relacionamento como se fosse uma teia, eu não via saída”, conta. Ao mesmo tempo em era visto como algoz, ele tinha atitudes de proteção. “Me fazia parecer louca e eu ficava na dúvida se era culpa minha. A cada briga ele se enfurecia e depois me acalentava”, emenda.

A gota d’água foi quando o homem incendiou as coisas dentro de casa, incluindo os brinquedos da filha, que tinha dois anos à época, e da enteada de 12. “Vi que minha integridade física e de minhas filhas estava em risco. Poderíamos ser eu e minhas filhas carbonizadas e o próximo passo poderia ser a morte”, lamenta. Um ano depois, com medida protetiva em mãos, ela ainda não se sente segura. “Não tenho sossego”, diz a vítima, que passa por acompanhamento psicológico com as filhas. Para alertar outras mulheres, ela relatou o próprio caso na internet.

JBr