Reuters/Paulo Whitaker

Com viagem marcada para regiões do País com risco de transmissão da febre amarela, brasilienses vão à procura de doses da vacina, mas nem sempre as injeções estão disponíveis — principalmente nas últimas horas do dia em que o serviço gratuito é ofertado. A Secretaria de Saúde nega desabastecimento. “Quando a programação diária de alguma unidade se esgota, ou está perto do fim, é solicitada a reposição na rede de frios, onde as vacinas estão concentradas”, informou, em nota. Enquanto isso, a população vai de posto em posto à procura de imunização.

A empresária Cleide Antunes foi a várias unidades básicas de saúde da Asa Sul na tarde de ontem e no dia anterior, pela manhã. Nos postos das quadras 508 e 513, tanto pela manhã quanto à tarde, a mulher relata ter ficado sem vacina. Ontem, recorreu à Unidade Básica de Saúde 8, na entrequadra 514/515 Sul. O estoque do dia, limitado a 100 injeções, estava esgotado. “Tomei há mais de 10 anos e quero reforçar porque vou à Bahia. Essa foi minha última tentativa do dia, mas amanhã (hoje) vou percorrer os postos de novo”, relata.

Dose única

A empresária, na verdade, não necessita de outra dose. “Antigamente, o Brasil não acompanhava o protocolo da Organização Mundial de Saúde. Agora, segue a orientação de que é necessária apenas uma dose durante toda a vida”, explica a gerente da Unidade de Saúde 8, Jussara Coelho Paulo da Rocha. Ainda assim, Cleide Antunes pretende tomar uma nova dose. “É por proteção. Melhor do que viajar sem e ficar na dúvida”, opina.Cleide vai entrar no terceiro dia de buscas por vacina nos postos da Asa Sul. Foto: Gabriel Jabur
A gerente do posto atesta o aumento na procura. “Antes do surto no País, não vinha quase ninguém. Criamos uma sala separada para a vacinação contra a febre amarela e uma equipe exclusiva, porque o tumulto estava grande”, relata.

Segundo a Secretaria de Saúde, não há surto no DF. “Somente aquelas pessoas que nunca tomaram a vacina devem ser vacinadas, uma vez que, com uma única dose, o paciente fica imunizado para o resto da vida”, sugeriu a pasta. Macacos encontrados mortos não são sinal de epidemia entre humanos, como esclarece a diretora de Vigilância Epidemiológica, Maria Beatriz Ruy.

“A eficácia da vacina não é de 100%. Vai de 96% a 98%. Portanto, 4% da população pode ficar doente”, alerta a diretora. “Ao fazer turismo rural ou ecoturismo em áreas de transição e de risco, indicadas pelo Ministério do Turismo, é importante usar calça, camisa de mangas compridas e reforçar a proteção com repelente”, aconselha.

Ao viajar para São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, é importante levar o cartão de vacinação. “Alguns parques de São Paulo têm exigido a comprovação de que a dose foi tomada, assim como em alguns países. Quem vai viajar precisa olhar no site da Anvisa os que exigem certificado internacional de vacinação”, acrescenta.

Os únicos que não podem tomar a vacina são crianças com menos de nove meses e idosos com mais de 60 anos. “Por causa do sistema imunológico. O do idoso é como o de um recém-nascido. Quando muito acionado, pode gerar reações adversas. Os idosos precisam de uma avaliação médica para comprovar a necessidade de tomar”, explica Maria Beatriz Ruy.

Alerta nos arredores

Com a morte de um macaco em área rural do Novo Gama (GO), registrada na última terça-feira, moradores de outras áreas do DF com vegetação abundante ficaram preocupados. Em Sobradinho II, o administrador regional Charles de Magalhães solicitou a criação de postos avançados de vacinação em caráter de urgência, por meio de ofício ao secretário de saúde.

Na visão do administrador, as áreas da Fercal e do Parque Ecológico Canela de Ema, a Vila Basevi e o Lago Oeste, o Grande Colorado e condomínios afins, além de Sobradinho II, são áreas de risco. “Esclarecemos que a região é cercada de matas nativas e reservas ambientais com a presença de animais silvestres e que é alta a densidade demográfica. É necessária a providência no sentido de imunizar a população”, declara.


Saiba mais

A Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival) investiga a causa da morte de um macaco na área rural de Novo Gama. De acordo com a Secretaria de Saúde, neste ano, foram registradas cinco ocorrências de morte de primatas no DF. Todas aguardam laudo. Os exames analisam tecidos de órgãos internos dos animais e ficam prontos no prazo de 30 dias.

No ano passado, foram registradas 155 mortes de macacos no DF, todas negativas para febre amarela. A pasta esclarece, ainda, que as mortes são investigadas por prevenção, já que são comuns, como acontece com qualquer animal.

Sobre a região de Sobradinho II, a Dival esclarece que não há morte de primata registrada na região. A Secretaria de Saúde orienta que, caso alguém encontre um macaco morto, o procedimento correto é informar imediatamente à Dival pelo telefone 99269-3673. “Não (se deve) permitir que o animal seja manipulado ou retirado do local. A Dival recolhe, recebe e encaminha os animais para análise no laboratório da UnB”, instrui a pasta.

JBr