Janaina de Abreu Moraes, com o Filho Eduardo. Foto: Kléber Lima

Cerca de 200 bebês, internados na rede pública de saúde, dependem da doação de leite materno para melhorar o quadro clínico e poder desfrutar da mamada no seio das mães, em casa. No entanto, a arrecadação promovida pelos bancos de leite está abaixo da demanda. Por isso, a pasta alerta para a necessidade de doação das mulheres que estão amamentando. Quem doa reforça a solidariedade. Quem recebe agradece pelo ato que salva a vida dos filhos.

Segundo a Secretaria de Saúde, a busca média é de 50 litros de leite pasteurizado por dia. Neste ano, mais de 2,5 mil litros já foram doados. Apesar dos números positivos, a procura aumenta a cada dia: 1,5 mil litros foram distribuídos para 1,5 mil bebês – o dobro da quantidade de mães que fizeram doações (731).

De acordo com a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, o Distrito Federal coletou, no ano passado, mais de 17 mil litros de leite materno, vindos de 5,6 mil mães. O número de bebês que receberam as doações foi o dobro das doadoras: 10,5 mil receptores. Em 2016, a conta foi ainda mais apertada: foram 5,3 mil doadoras para 9,1 mil receptores. Houve 15,9 mil litros de leite coletados, sendo 8,9 mil distribuídos.

Situação crítica

A responsável pela área técnica de Aleitamento Materno e Banco de Leite Humano, Miriam Santos, pondera que, se comparado com o mesmo período do ano passado, o volume da doação até aumentou. “Mas a demanda está maior. Cada vez mais, temos crianças em unidades neonatais precisando do leite. A gente precisar ter um volume maior para conseguir atender mais bebês”, aponta.

Segundo Miriam, atualmente há duas unidades que precisam mais de doações: o Hospital Regional de Ceilândia (HRC) e o Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). “O primeiro é pela quantidade de partos. No caso do Hmib, é porque é a referência de UTI neonatal para casos cirúrgicos”, afirma.

Um outro porém, conforme a responsável técnica do Banco de Leite Humano do DF, é que a Secretaria de Saúde pretende ampliar a distribuição para o Hospital Regional de Samambaia (HRSam). “Isso reforça ainda mais a necessidade”, resume. “Cada pote de 300 ml doado pode alimentar até dez bebês. Para suprir a demanda, a gente faz um remanejamento nos hospitais. O pouco que sobra em uma a gente leva para outro, e assim vai indo”, completa.

Bebês dependem de ato

A dona de casa Francisca Cleoneide Sousa Morais foi doadora pela primeira vez há 24 anos. Hoje, aos 41 anos, precisou do banco de leite para alimentar as duas filhas, gêmeas, que nasceram prematuras – com seis meses. Emanuelle nasceu com 650 gramas, com um problema cardíaco, e no parto teve uma complicação que acabou perfurando o esôfago. Ela está internada no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), aguardando uma cirurgia. Nicolle, a segunda gemelar, nasceu com 800 gramas e está com a mãe internada no Hospital Regional de Taguatinga (HRT).

“No início, eu tive tanto leite que meus seios empedraram. Eu doava muito. Por serem prematuras, elas não conseguiam fazer o movimento de sugar. Então, acabei ficando sem leite depois de um mês do nascimento. Hoje a Emanuelle está com 1 kg e 100 gramas, e a Nicolle com 1 kg 656 g. A doação está sendo essencial para minhas filhas. É um presente que estou recebendo de volta por todo tempo que doei”, conta.

Para ela, o que importa é fazer o bem. “A gente nunca sabe quando vai precisar. Tenho seis filhos e de todos eles eu doei leite para o HRT até os oito meses. Tenho até diploma de mãe doadora em casa. Não sei o que seria de mim sem o banco de leite”, desabafa.

Francisca espera, agora, conseguir alimentar suas filhas em breve. “Como a Nicolle está melhor, eu já estou a estimulando a mamar no peito. Faz quatro dias que começamos o estímulo e saem algumas gotas. Daqui a uns dias elas vão mamar o meu leite”, espera.

Ato de solidariedade

A bancária Janaína de Abreu Moura, de 36 anos, começou a ser doadora há três meses, por acaso. “Eu procurei um banco de leite para buscar orientações de como amamentar. Lá, fui tirar dúvidas de como resolver algo pessoal e contei que, por ter muito leite, estava jogando fora o excesso. Estava tão preocupada com o meu problema que nem pensei que esse excesso poderia ajudar outras crianças”, lembra.

Naquele dia, a mãe voltou para casa com um pote de 300 ml, e desde então começou a doar para o banco de leite do Hospital Regional de Taguatinga. “Nesse tempo, teve semana que cheguei a doar quatro litros. Semana passada foram seis vidros. E para esta semana vou doar cinco potes. Toda quinta-feira eles buscam a doação e trazem mais potes para eu encher”, explica.

Empatia

Para ela, o filho Eduardo, de quatro meses, é o responsável pelo ato de solidariedade. “Ele veio e já está ajudando outras crianças, fazendo o bem. Para mim deu tudo certo: meu parto foi tranquilo, eu e meu filho recebemos alta. Então agora estamos ajudando àquelas mães que não tiveram essa oportunidade. Eu me coloco no lugar de outras pessoas: e se fosse meu filho que precisasse? Faço com prazer”, finaliza Janaína.

Ponto de vista

O aleitamento materno está diretamente ligado com o desenvolvimento da criança. “O primeiro grande benefício são os anticorpos, então isso diminui as chances de ficar doente nos primeiros anos de vida. A composição, com mais ou menos proteínas, carboidratos, gorduras, vai depender de cada bebê”, explica a pediatra Andrea Kasmin. Para garantir a segurança e qualidade da mamada, o leite doado passa por um processo para eliminar qualquer micro-organismo presente. “Se tiver contaminação, ela é destruída e o leite continua sendo fundamental para o bebê”, completa Andrea. A recomendação é de que, até os seis meses de vida, os bebês se alimentem exclusivamente do leite materno. Depois disso, as mães podem introduzir outros alimentos e seguir com o aleitamento de forma secundária até os dois anos da criança.

Fonte: Jornal de Brasilia