Pena foi fixada em 67 anos e 6 meses de reclusão, mas ela poderá recorrer em liberdade. Julgamento foi o mais longo da história do DF, com mais de 103 horas de duração.

Por Afonso Ferreira, G1 DF

Adriana Villela chega a tribunal em Brasília; julgamento é nesta segunda-feira (23) — Foto: TV Globo/Reprodução

O Tribunal do Júri de Brasília condenou a arquiteta Adriana Villela, de 55 anos, pelos assassinatos do pai, da mãe e da empregada da família. A decisão foi anunciada às 18h06 desta quarta-feira (2), após mais de 103 horas de júri, no julgamento mais longo da história do Distrito Federal.

Adriana Villela foi considerada culpada de ser a mandante do assassinato do pai, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela; da mãe, Maria Villela; e da empregada da família, Francisca Nascimento. O caso, ocorrido em 2009, ficou conhecido como “crime da 113 Sul” (relembre ao final da reportagem).

A pena final foi fixada em 67 anos e 6 meses de reclusão. No entanto, o juiz permitiu que Adriana Villela recorra da sentença em liberdade. O julgamento começou no dia 23 de setembro, 10 anos após o crime, e durou 10 dias.

Adriana Villela foi condenada pelos seguintes crimes:

Triplo homicídio triplamente qualificado: motivo torpe, com crueldade e impossibilidade de defesa
Furto qualificado (em razão do concurso de pessoas): o promotor diz que é furto porque as vítimas já estavam mortas, senão seria latrocínio

'Frieza'

Durante leitura da sentença, o juiz Paulo Rogério Santos Giordano destacou que Adriana Villela demonstrou “frieza e capacidade de manipular as pessoas”.

Ainda de acordo com o magistrado, “a vítima não foi atingida por meio cruel, foi monstruoso. Que só poderia ter partido de alguém desprovido de empatia”.

Recurso


Adriana Villela chega ao tribunal para 9º dia de julgamento; ré chegou acompanhada do advogado (D), do irmão (E) e da filha — Foto: Afonso Ferreira/TV Globo

Após a divulgação do resultado, a defesa da acusada divulgou nota afirmando que vai recorrer da decisão. Confira o posicionamento na íntegra:

"A defesa técnica da Adriana Villela tem a mais absoluta certeza e convicção da sua inocência. Produziu prova negativa da sua participação no terrível assassinato dos seus pais e da colaboradora Francisca. O Tribunal do Júri, no entanto, condenou a Adriana. Sem um fiapo de prova. É um erro judiciário colossal e desumano. Iremos ao Tribunal para reverter esta injustiça."

Já o procurador Maurício Miranda afirmou que "o Ministério Público se sente satisfeito com o resultado obtido. No fim das contas prevaleceu o entendimento do MP". Ainda de acordo com o procurador, a pena fixada está alinhada com julgamentos similares.

Questionado sobre a demora na resolução do caso, ocorrido há 10 anos, Miranda fez uma crítica.

"O balanço que eu faço é que a lei é muito injusta porque cria diferença na aplicação entre o rico e o pobre. Acredito que precisa haver uma modernização no sentido de facilitar para que todos tenham o mesmo tratamento. Que o julgamento não seja mais demorado por conta de condição econômica."

Último dia de julgamento

No último dia de julgamento, a sessão foi aberta às 9h21, com debates entre acusação e defesa. Cada parte teve 1 hora e 30 minutos para apresentar os argumentos. Em seguida, defesa e acusação fizeram réplica e tréplica.

Por volta das 16h15, os debates chegaram ao fim e os jurados se reuniram na sala secreta para definir o resultado do julgamento. A análise do júri durou cerca de 1 hora e 45 minutos e, em seguida, o veredito foi anunciado.

O que disse a acusação

Procurador Maurício Miranda, do MPDFT — Foto: TV Globo/Reprodução

A tese da acusação convenceu a maioria dos jurados. Segundo o Ministério Público, o crime foi cometido por desavenças financeiras entre Adriana Villela e os pais. Os promotores alegaram que ela interferiu nas investigações e que os pais da arquiteta já tinham reclamado do “temperamento agressivo” da acusada.

Nos debates desta quarta, o procurador do Ministério Público do DF Maurício Miranda exibiu em um telão trechos de uma carta escrita pela mãe de Adriana Villela e endereçada à filha.

"Adriana, nossa paciência se esgotou. Estamos cansados dos seus destemperos. Se você sofre de agressividade compulsiva, procure um tratamento adequado, porque isso está lhe fazendo muito mal," dizia o texto.

O procurador também mostrou fotos dos corpos das vítimas e reforçou a brutalidade do crime. “Que morte, senhores jurados. Essa é a morte que ninguém merece.”

O que disse a defesa

Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay — Foto: Reprodução/TV Globo

Durante os 10 dias de julgamento, a defesa da arquiteta reafirmou a inocência dela e fez críticas à denúncia apresentada pelo Ministério Público do DF e às investigações comandadas pela Polícia Civil. Segundo a defesa, o caso foi um latrocínio.

Nesta quarta, o advogado de defesa Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse "não foi encontrada uma prova contra a arquiteta". Segundo ele, a acusação é "frágil" e "não demostra a realidade com os fatos. "Nunca encontraram um prova", afirmou.

Kakay também apresentou ao jurados um vídeo com a linha do tempo de Adriana Villela no dia do crime. Segundos os advogados, ela tem álibis que provam que Adriana não esteve na cena dos homicídios.

Fila para acompanhar julgamento

Dezenas de pessoas, entre estudantes, advogados, parentes, amigos de Adriana Villela acompanharam a sessão no Fórum de Brasília. Houve fila para entrar no local durante as últimas sessões.

O estudante de direto Esli Paulinho de Brito, de 32 anos, acompanhou o julgamento de Adriana Villela desde o primeiro dia. Ele está de férias do trabalho e disse que quis assistir ao júri para aprender.

“Minha diversão foi acompanhar o júri. Foi um momento que pude observar como me comportar quando me formar.”

Entenda o caso

Maria Carvalho Mendes Villela e José Guilherme Villela, mortos em 2009 em apartamento na Asa Sul — Foto: Arquivo pessoal.

Adriana Villela, de 55 anos, foi condenada por triplo homicídio em um processo com mais de 20 mil páginas. No dia do crime, no sexto andar do bloco C da 113 Sul, quadra nobre de Brasília, foram assassinados:

O pai dela, José Guilherme Villela, 73 anos, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com 38 facadas
A mãe dela, Maria Carvalho Mendes Villela, 69 anos, advogada, com 12 facadas
A empregada doméstica da família, Francisca Nascimento da Silva, 58 anos, com 23 facadas

Os corpos foram achados, já em estado de decomposição, em 31 de agosto de 2009, na Asa Sul. A perícia demonstrou que as vítimas foram assassinadas em 28 de agosto de 2009, por volta das 19h15.

Três homens foram condenados pela execução do crime e cumprem penas que, juntas, somam 117 anos de reclusão:

Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio onde o casal Villela morava: condenado a 60 anos de reclusão;
Paulo Cardoso Santana, sobrinho de Leonardo: condenado a 62 anos de reclusão;
Francisco Mairlon Barros Aguiar: condenado a 55 anos de reclusão.