O Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino busca celebrar a força das 9,3 milhões de empresárias brasileiras

A empresária Etiene Reolon, se sente realizada. Foto: Divulgação


Com a chegada da pandemia de covid-19 ao país, os brasileiros se viram em meio a maior taxa média de desempregados da história. Parte dos mais de 86,11 milhões de desocupados, estava Etiene Reolon, que, até então, trabalhava em um banco no Distrito Federal.
Ao perder o emprego, Etiene tomou uma decisão: “Eu falei para mim mesmo ‘eu nunca mais vou trabalhar com algo que eu não goste”. E foi, lembrando de anos atrás, que ela decidiu abrir o Chili Chili Mexican Food, um restaurante de comida mexicana, que, por enquanto, funciona apenas por delivery.
“Eu observei que o pessoal estava comendo muito em casa, então eu decidi abrir um restaurante por delivery”, conta a empresária. Há 15 anos, quando ainda era casada, Etiene tinha um restaurante também de comida mexicana com o ex-marido. Porém, com a separação, o negócio foi fechado.
Comemorado no dia 19 de novembro, o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino busca celebrar a força das 9,3 milhões de empresárias brasileiras. Agora, mudando de dados, Etiene faz parte das 119 mil empreendedoras do Distrito Federal. Os dados são do Sebrae.
Junto a Etiene, Fernanda Sales também abriu a sua própria marca em 2020, a LUMAS. “Desde 2014, tinha vontade de montar um negócio de camisetas com frases para despertarem e apoiarem mulheres. E, ano passado, mesmo em meio a crise da pandemia, dei o pontapé inicial. Aproveitamos que o mundo todo estava migrando para o digital, então, o investimento para abrir uma loja caiu bastante. Foi a hora certa”, explica Fernanda.

A marca, lançada no meio de 2020, ressalta, ainda, a importância econômica e sustentável. Os produtos da empresa buscam a valorização da cultura local e possuem matéria-prima eco-friendly (em inglês, amigo do ambiente).
“Pessoalmente, foi uma realização muito grande. Sempre tive vontade de abrir um negócio focado no protagonismo da mulher. Uma marca de mulheres para mulheres e conseguir fazer deste propósito uma fonte de renda é realizar o sonho”, comemora.
Fernanda e Etiene também contribuíram para o a inovação do mercado durante a pandemia. Segundo outra pesquisa do Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), 71% das mulheres afirmaram ter usado recursos para inovar seus negócios durante a crise sanitária, contra os 63% dos homens que disseram ter feito o mesmo investimento.
Machismo
As irmãs Isabela e Luana Finger estão à frente da pizzaria Valentina, localizada na Asa Sul e Norte. A empresa foi fundada em dezembro de 2006, pelo Robson Cunha, pai das empreendedoras. Desde que elas começaram a trabalhar nos negócios da família perceberam que eram minoria no mercado, já que dos 90 colaboradores, quase todos eram homens.

“Há sete anos, desde que comecei a tocar os negócios da Valentina, senti que enfrentaria um grande desafio por ser nova e mulher, justamente pela cultura brasileira e pelo machismo. Eu não era ouvida, me sentia extremamente calada. Não conseguia me impor”, explica a empreendedora Luana Finger.
A empresária decidiu fazer cursos de oratória, liderança e comunicação para criar uma casca, aprendendo a ter uma energia masculina. Até que ela percebeu que por ser mulher tinha um grande diferencial, como ser mais detalhista e cuidadosa. Foi como juntar o útil ao agradável.
“Isso é uma grande crença de que precisamos nos posicionar como homem. A gente tem que aprender que somos capazes sim, a gente consegue sim. Nós somos fortes. É necessário ter muita resiliência e nunca desistir”, pontua Isabela.
Etiene conta que também passou e passa por momentos de machismo e até assédio. “Eu vou no Ceasa comprar algumas coisas, e nós somos meio que “devoradas” (assediadas) com os olhos por ser uma mulher”, diz.
Infelizmente, no caso da dona do restaurante, não há muito o que fazer. Então, a solução que a mesma encontrou foi mudar o jeito de se vestir quando vai ao centro. “A cada dia, eu tenho me acostumado mais. Porque se a gente não se acostumar e erguer a cabeça a gente não vai para frente. Eu não deixo me abater por preconceito não”, finaliza.
Diferenças
Apesar do crescimento no mundo dos negócios, a especialista em empreendedorismo Juliana Guimarães alerta para as diferenças entre homens e mulheres que ainda existem no meio: as mulheres empreendedoras são mais jovens e possuem um nível de escolaridade 16% maior que o dos homens, porém, continuam ganhando 22% a menos que os empresários do gênero masculino.
“Outra distinção que afeta os negócios gerenciados por mulheres é o acesso a crédito e linhas de financiamento: o valor médio de acesso a empréstimos feito por empresárias é de R$ 13 mil a menos do que a média liberada para homens. Como agravante, mesmo com uma inadimplência mais baixa (3,7% para mulheres e 4,2% para homens), as taxas de juros cobradas de empresárias é 3,5% maior do que de empresários”, explica.
Outros dados analisados pelo Sebrae mostram que 96,3% das empreendedoras têm apenas um trabalho. Além disso, 75% das empresárias estão há dois ou mais anos no mesmo trabalho e 81% das “donas de negócio” não têm sócios.
“Então, qual a importância do empreendedorismo feminino? Porque os dados mostram que as mulheres que se aventuraram no mundo dos negócios, investem seu tempo e se dedicam para atingir o sucesso, por vezes, sem contar com o apoio de sócios, com quem possam compartilhar inseguranças e decisões, e ainda encerram a rotina sendo chefes de família. São mulheres com dupla, tripla jornada de trabalho e que ainda geram empregos e fazem a economia girar”, pontua a especialista.
Por isso, estimular o empreendedorismo feminino é proporcionar liberdade financeira para muitas chefes de família, é compreender que a engrenagem maior, chamada economia, precisa de pessoas como essas empresárias, que dedicam o seu tempo e têm o sucesso como a única meta possível.
Fonte: Jornal de Brasília
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