Foto: Rinaldo Morelli/CLDF

Representante da Secretaria da Mulher apresentou dados que mostram que a "mulher sofre violência por 8 anos até conseguir despertar e procurar ajuda"

A Câmara Legislativa do Distrito Federal realizou, na manhã desta sexta-feira (17), audiência pública para debater soluções ao problema da violência contra a mulher no ambiente doméstico. A iniciativa partiu da deputada Dayse Amarílio (PSB), que destacou a importância de se cobrar a aplicação da legislação em defesa das mulheres. “Temos leis muito boas, mas o desafio é fazer com que elas sejam cumpridas”, observou. A distrital conduziu a audiência e defendeu a necessidade de se consolidar a rede de apoio às mulheres que sofrem violência.

Representando a Secretaria da Mulher do DF, a secretária executiva Jackeline Aguiar apresentou dados que mostram a demora na busca de ajuda por mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar e criticou a forma como o atendimento a essas mulheres é muitas vezes prestado. “Estudos dizem que a mulher sofre violência por 8 anos até conseguir despertar e procurar ajuda. Muitas vezes, o agente que a atende pergunta se ela tem certeza que quer seguir com a ocorrência, diz que o marido vai ser preso, que o filho vai ficar sem pai. Isso é ser agredida duplamente”, reclamou. Nesse sentido, a secretária executiva ressaltou que um dos desafios de sua pasta é justamente capacitar os servidores que atendem às vítimas.

Esse desafio torna-se ainda mais complicado porque as consequências psicológicas dos abusos sofridos pelas mulheres também atingem os servidores que prestam atendimento, de acordo com Jackeline Aguiar. “Temos 12 equipamentos públicos vinculados à Secretaria da Mulher, e o número de servidores adoecidos é gigantesco. É muito duro trabalhar vivenciando as dores das mulheres. Estamos em uma luta constante na secretaria para capacitar os servidores e dar boas condições de trabalho”, garantiu.

Para a doutora em saúde pública Kátia Souto, o combate à violência contra a mulher deve começar na escola. “Precisamos retomar o debate sobre educação sexual nas escolas. É uma forma de os educadores reconhecerem minimamente os sinais que uma criança pode dar a respeito de uma possível situação de violência”, defendeu. Kátia Souto também lembrou que as iniciativas para acabar com a violência contra as mulheres também devem envolver os homens. “Quando conseguirmos aglutinar mais homens que entendam como a masculinidade tóxica os prejudica, estaremos avançando”, disse.


Sílvia Badim, coordenadora do Núcleo de Estudos de Diversidade Sexual e de Gênero da Universidade de Brasília (UnB), explicou que a violência doméstica contra a mulher não é pontual, mas parte de um ciclo de violências. “O ciclo da violência doméstica consiste na violência patrimonial, violência física, violência moral, violência psicológica e violência sexual. A mulher vai entrando num ciclo de violência que é difícil de ser rompido. Às vezes começa numa violência moral e psicológica, que já reverbera na saúde mental da mulher, e depois pode reverberar para violência física ou sexual”, afirmou.

A professora também observou que o Sistema Único de Saúde está atualmente melhor preparado do que a rede privada para atender casos de violência contra a mulher.

Eder Wen - Agência CLDF