Crime ocorreu pela manhã na entrequadra 104/ 105 Sul. Foto: Ariadne Marçal

Segunda-feira de manhã, começo de mais uma jornada. Muita gente depende do transporte público para chegar ao local de trabalho. E, assim como milhares, uma mulher, que não quis ser identificada, foi vítima de um assalto no ponto de ônibus das quadras 104/ 105 Sul, por volta das 9h. Os assaltantes foram pegos em flagrante pela equipe de plantão da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam). Para a chefe da unidade, a delegada Sandra Gomes, não existem dúvidas de que as maiores vítimas desses delitos são as mulheres, pois, para os assaltantes, elas seriam um alvo mais fácil.

De acordo com Sandra, a vítima sofreu ameaças de dois homens, que tomaram o celular dela. “Tão logo aconteceu, ela veio à delegacia e nossos policiais a acompanharam para que fizesse o reconhecimento dos criminosos”, relata.

O celular da moça estava com eles e foi devolvido. “Não é possível restabelecer o sentimento de tranquilidade da vítima após o delito, mas ter o pertence de volta traz a ela um conforto e a ideia de que aquilo não vai ficar impune”, diz.

Segundo a delegada, os dois homens já tinham passagem pela polícia quando menores. Apesar dessa informação, eles não portavam documentos de identidade, então a polícia aguarda a pesquisa pelas digitais para identificá-los.


DEAM
Há menos de uma semana à frente da Deam, Sandra Gomes almeja intensificar a ação da delegacia. Como participante da implementação da Lei Maria da Penha, ela avalia que o Brasil tem uma das melhores leis para a proteção das mulheres, mas continua com índices elevados de violência. Quando a legislação entrou em vigor, diz, elas não denunciavam, mesmo com o apelo das campanhas. “Temos uma lei que pegou. Tenho orgulho de ter feito parte disso. Fiz palestras em Brasília, levando esclarecimento para a mulher, mas não é só isso. O País não está trabalhando a desconstrução do machismo. Só a lei não vai adiantar”, dispara.
Por isso, a delegada está à procura de soluções. “O homem com o viés machista não se importa com a lei nem com a Justiça. Acredita que vai conseguir envolver a vítima e, de repente, no Judiciário, fazer com que ela desista”, completa.
Para ela, já é tempo de a sociedade ter mais consciência do problema. “Vemos que os números de registros continuam lá em cima, a polícia está atuando, Judiciário também, e as mulheres continuam sendo vítimas”, lamenta.

Crime frequente

De acordo com o balanço da criminalidade divulgado pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, as ocorrências de roubo a transeunte passaram de 2.954 em fevereiro de 2016 para 3.341 no mesmo mês de 2017 – média de 55 por dia.
A chefe da delegacia aponta que o roubo de celulares é um crime em constante ascensão e o assaltante costuma fazer mais vítimas mulheres. “Eles partem do princípio de que a mulher é mais vulnerável”, lembra.

A delegada acredita que o comportamento da vítima no caso foi crucial para a eficiência do flagrante: “Em todos os delitos, até mesmo uma ameaça, a ocorrência é fundamental, principalmente na hora do planejamento operacional. Se não tem ocorrência, não encaminhamos os meios necessários”.

Registro da ocorrência é fundamental

Há um mês, uma jovem foi estuprada e assaltada em uma parada de ônibus na 609 Norte. Diante desse e dos demais casos, a delegada Sandra Gomes relembra o quanto é importante que a vítima não se culpe pelo ocorrido, e que faça o registro para que a polícia se movimente. Ela reconhece que a população tem deixado de confiar na ação policial, e, por isso, pretende restabelecer a delegacia móvel para levar informação e serviço às comunidades distantes.

De passagem pela mesma parada onde o roubo de ontem ocorreu, Vânia Pereira da Silva, 31 anos, doméstica moradora de Águas Lindas, depende de transporte público para trabalhar. Ela conta que já foi assaltada duas vezes. “Na época não cheguei a fazer ocorrência porque não acho que faça alguma diferença”, admite. Ela confessa que a atitude foi errada, mas, devido à pressa do dia a dia, não julgou que adiantaria perder tempo com isso.

“Eu sei que precisamos reportar as coisas para a polícia, porque é a mesma coisa de alguém passar mal e chamar um bombeiro: se não chamar, não tem como ele saber. A polícia nunca vai saber o que está acontecendo”, compara.

Também doméstica, Lindalva Paiva, 37 anos, vive com medo nos pontos de ônibus. Ela acredita que o policiamento deixa a desejar. “Semana passada, em uma parada do Guará, uma moça estava apanhando, e no começo pensamos que era briga de casal. Então, depois chegou outro homem e eles continuaram a agredi-la. Fiquei chocada, como se fosse comigo, mas estávamos no ônibus e não podíamos fazer nada”. “A gente tem que avisar a polícia pelo menos”, conclui.

Jornal de Brasilia