Tesourinhas do Plano Piloto são pontos críticos na época das chuvas. Foto: Myke Sena

As chuvas podem até ser a novidade dos últimos dias, mas um problema que surge com elas é bem antigo: os alagamentos. Apesar de admitir que incidentes devem ocorrer, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) assegura que eles devem ser amenizados neste ano. A estimativa é de que sejam gastos R$ 3 milhões até o fim do ano com limpeza de bocas de lobo e reestruturação do sistema de escoamento. O projeto que traria uma solução definitiva ainda não saiu do papel. É o projeto Drenar-DF, que prevê obras robustas no Plano Piloto e em Taguatinga.

Enquanto isso, a população reclama que pouco é feito. “Entra ano e sai ano, é a mesma coisa: sempre alaga a parte da frente da loja. Não tem limpeza nas bocas de lobo”, denuncia o comerciante Francisco de Assis Barros, 72. Ele se refere à 513 Sul e fala com propriedade: a lanchonete está ali há 35 anos. “O IPTU que a gente paga daria para arrumar, mas nada é feito”.

Francisco diz que é só cair uma chuva mais forte e longa que fica impossível transitar a pé na frente do estabelecimento.
A 513 Sul é bem conhecida pela Novacap, pois é um dos pontos de alagamentos mais comuns na parte central de Brasília. Segundo o levantamento da companhia, as tesourinhas também podem ser somadas a esses espaços sensíveis, em especial a da 102/202 Sul.

A explicação é que a impermeabilização ao redor dessas áreas foi grande, assim como o crescimento de Brasília. Essa equação fez com que as águas pluviais não tivessem para onde escorrer. O diretor-presidente da Novacap, Júlio Menegotto, alega que isso já é de conhecimento do governo há 30 anos. Ele assegura, porém, que a limpeza do sistema começou em janeiro deste ano. No início de outubro, os trabalhos chegam às tesourinhas.

Das 180 mil bocas de lobo presentes em 4 mil km de rede pluvial do DF, 35 mil já foram limpas, em geral nos pontos mais críticos. Dessas, 5 mil foram substituídas ou revitalizadas porque estavam quebradas ou foram extraviadas.

Houve reparos na rede pluvial de cidades como Samambaia, Ceilândia, Gama, Planaltina e Recanto das Emas. “Fiz uma solicitação hoje (ontem) ao secretário de Cidades, Marcos Dantas, para que fizesse um pedido aos administradores a fim de que ocorresse uma limpeza em todas as cidades”, afirma o diretor-presidente da Novacap.

“Sabemos que algumas tesourinhas vão alagar. Se o sistema estiver limpo, vai demorar mais a acontecer e, se ocorrer, vai ser limpo mais rapidamente”, completa.

A quarta-feira passada foi um dos primeiros dias do mês com uma chuva mais intensa. Além da queda de energia em algumas cidades, ocorreram diversos acidentes de trânsito.
Dados da Central Integrada de Atendimento e Despacho (Ciade), que pertence à Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social do DF (SSP/DF), indicam que, naquele dia, houve um aumento de 51,35% nos acidentes de trânsito.
Enquanto na quarta-feira da semana anterior os acidentes resultaram em 37 ocorrências, nessa quarta eles chegaram a 56.

Mesma ideia, novo nome

O projeto Drenar-DF, promessa do governo para dar um fim definitivo a esses alagamentos, ainda não saiu do papel – e sequer tem prazo. O assunto surgiu em 2012, ainda na gestão de Agnelo Queiroz, com outro nome, o Águas do DF, e, se tornou Drenar-DF no atual governo. O programa é divido em duas partes – uma que privilegia o Plano Piloto, e outra, Taguatinga – e prevê modificações no sistemas pluviais .

O Drenar-DF 1 está em fase de readequação de projetos e deve custar cerca de R$ 130 milhões. Já o Drenar-DF 2 está em fase final de licitação, com investimento de R$ 129 milhões disponibilizados pela Caixa Econômica Federal. As duas partes terão dois anos para a execução a partir da data de assinatura.

Enquanto nada muda, a bancária Juliana Zampaulo, 37, faz de tudo para não passar pelas tesourinhas em dias de chuva. Ela nunca ficou ilhada porque toma cuidados, mas fica com receio devido a relatos de muita gente que perdeu carros nos alagamentos.

Para o diretor da Novacap, Júlio Menegotto, o Drenar-DF vai trazer as mudanças necessárias.

MAPEAMENTO
A Defesa Civil está produzindo um levantamento, que deve ser apresentado até a segunda semana de outubro, sobre os locais que apresentam risco de desabamento.
O subsecretário de Defesa Civil, coronel Sérgio Bezerra, acredita que haverá uma diminuição das áreas de risco, já que o GDF conduziu algumas obras estruturais, como na Fercal e no Sol Nascente.
O problema dessas regiões é que elas apresentam casas em encostas de morros, como na Fercal, ou são construções sem uma base adequada, como no Sol Nascente.

João Paulo Mariano
Jornal de Brasilia