Se no presente os pais são os que tomam as decisões importantes, no futuro os pequenos é que terão a responsabilidade nisso. Assim, entendê-los faz parte da preparação deles aos tempos que os aguardam. Por isso, hoje, Dia da Criança, o Jornal de Brasília resolveu ouvir a garotada para saber o que eles querem e quais são suas necessidades e sonhos.
As realidades e fantasias de cada uma das 335.690 crianças do DF – segundo dados da Companhia de Planejamento (Codeplan) – muitas vezes são diferentes e propõem desafios complicados até mesmo para adultos levarem adiante. Mas, apesar de todas as dificuldades que eles, porventura, venham a enfrentar, continuam com o sorriso de quem sabe que não é um machucado qualquer que vai pará-los.

Foto: John Stan

Felicidade e proteção

O sorriso fácil do garoto de 11 anos não deixa transparecer as agruras que a vida proporcionou. Diogo Lucena Sousa perdeu a mãe aos três anos devido a um ataque cardíaco. Dela, o rapaz não esquece o nome: Edna. Já o pai faleceu de câncer quando ele tinha nove anos. Do contato paterno, o que ele mais lembra é dos peixes preparados com pimenta-do-reino. Atualmente, Diogo mora com a irmã Vanessa Ribeiro Lucena, 27, na comunidade Santos Inocentes em Samambaia, que acolhe mulheres e suas famílias quando elas precisam de auxílio na gravidez. Ali, o menino voltou à escola e aprendeu a gostar de matemática. Com o acolhimento e proteção recebidos, ele decidiu que vai ser assistente social. Nesse ambiente de carinho, ele pôde voltar a sonhar: uma das vontades é ter um carro e uma moto verdes, como os do jogo de videogame favorito. O que ele deseja para todas as crianças neste dia? “Muita felicidade, proteção e muita vida”. Para ter proteção, ele sempre carrega um terço no pescoço. Agora, ele não chora ao lembrar das diversas mudanças de casa e da perda dos pais, mas sorri ao lembrar de tudo que recebe dos “tios e tias” da Santos Inocentes.Foto: Myke Sena

Desejo de diversão

Ana Beatriz Alves Santana, 8, perambula pelas ruas de Brasília como uma bailarina: postura ereta e movimentos graciosos. Mas, apesar de praticar a dança desde os três anos, a moradora de Santa Maria pretende ser verterinária ou médica, pois quer cuidar dos animais ou das pessoas. A avó Adenir Pereira brinca que não sabe se daria muito certo, já que o único bicho de estimação que ela teve, um peixinho, morreu. De todo modo, a mulher garante que a neta é uma menina muito alegre e estudiosa.

Em relação às brincadeiras, mesmo em tempo de celulares e tablets, a menina prefere pique-esconde com o irmão mais novo e com os amigos. O problema é que tem de ser sempre dentro de casa, porque no local onde mora não existem tantos parquinhos. Os poucos existentes nem sempre são seguros devido à violência na região. Isso a incomoda bastante, mas não a ponto de acabar com sua felicidade. Ana Beatriz afirma que está muito feliz e estava ansiosa pelo Dia da Criança para poder comemorar com os pais. “Desejo que todas as crianças se divirtam muito”, diz.Foto: Myke Sena

Sonhar apesar de tudo

No começo da conversa., Daniel Santos, 12, contou do desejo de ser bombeiro ou arquiteto. Mas, depois de alguns movimentos com uma bola de futebol, ele admitiu que, na verdade, queria ser jogador de futebol. O problema são os obstáculos para alcançar o sonho. O amor pelo esporte é antigo: desde os sete anos. Embora não tenha abandonado a bola, ele deixou a ambição para escanteio. “Quando entrei na escolinha e o professor falou que a gente poderia alcançar nossos sonhos, eu fiquei animado, mas depois vi que não daria certo”, lamenta Daniel, que reclama da estrutura precária. A escolinha Apollo Júnior foi criada em 2000 no parque urbano da Estrutural, mas, desde 2015, não há vestiário nem banheiro, pois esses espaços foram depredados. Enquanto isso, Daniel, que mora com a mãe e a irmã no Setor Oeste da Estrutural, estuda bastante para ser um bom bombeiro. Apesar da mudança de planos, o rapaz deseja que as crianças de todo o mundo não desistam do que querem, pois coisas boas podem ocorrer.