Ao todo, 25 edifícios foram inspecionados. Terremoto na Bolívia foi sentido em várias regiões do DF.

Por Marília Marques, G1 DF

Prédio na W3 Norte é esvaziado após tremor de terra em Brasília (Foto: Álvaro Costa/TV Globo)

O terremoto originado na Bolívia e sentido em diversas regiões do Brasil nesta segunda-feira (2) não gerou dano material aos edifícios impactados no Distrito Federal, afirma a Defesa Civil. Nas horas seguintes ao tremor, técnicos vistoriaram 25 edifícios que chegaram a ser esvaziados na área central de Brasília.

Até as 16h, engenheiros e técnicos da subsecretaria de proteção descartavam "qualquer tipo de dano às estruturas". Neste horário, ainda havia previsão de avaliar outros sete prédios.

Segundo o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), os tremores foram reflexo de um terremoto de magnitude 6,7 ocorrido na Bolívia. No Distrito Federal, quem estava no Plano Piloto, na Esplanada dos Ministérios, no Guará e em Planaltina relatou "sintomas" do terremoto.

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A sensação se repetiu em diversas regiões do país. Ainda pela manhã, houve registro de desconforto, alerta e interdição de áreas em São Paulo, Santos (SP), Marília (SP), São Carlos (SP), Araxá (MG), Belo Horizonte (MG), Uberlândia (MG), Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Pela manhã, o Observatório Sismólogico da UnB chegou a pontuar o "tremor" na Bolívia com a magnitude de 6,8. À tarde, o dado foi fechado em 6,7. Ainda segundo os pesquisadores, o epicentro ocorreu a 548 km de profundidade – com margem de erro de 2 km, para mais ou para menos.

Técnicos e engenheiros da Defesa Civil fazem vistoria em prédio do Tribunal de Contas do DF (Foto: Defesa Civil/Divulgação)

Sem danos materiais

Ao G1, o subsecretário de Defesa Civil do DF, o coronel Sérgio Bezerra, afirmou que na perspectiva dos especialistas da área, "está tudo dentro da normalidade, e nenhum dano material foi observado em estruturas de Brasília".

"Em nenhuma edificação foram encontradas fissuras, trincas ou rachaduras decorrentes desse abalo na Bolívia."

Apesar disso, Bezerra destacou que é importante "observar manifestações de possíveis problemas estruturais ou em função do terremoto". Em casos como o registrado nesta segunda, o coronel recomenda "manter a calma", esvaziar o prédio e entrar em contato coma Defesa Civil por meio do telefone 199.

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E o viaduto?

Questionado pela reportagem, o coronel Bezerra afirmou que a Defesa Civil não foi chamada para vistoriar a estrutura do viaduto que desabou há quase dois meses na região central de Brasília. O equipamento está escorado por vigas de metal e concreto e, por isso, segundo explicou, "resiste tranquilamente".

"Para essas estruturas, a sensação é a mesma quando passa um carro pesado e a estrutura balança, não significa que vá desabar."

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A Defesa Civil explica, ainda, que eventos como tremores de terra são muito sentidos em edificações mais altas. "Quanto mais alto o prédio, mais fácil apresentar esse fenômeno, por conta da distância para o solo".

Prédios esvaziados até as 12h30:

Ministério da Educação
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços
Ministério da Justiça
Infraero
Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1)
Anvisa
Terracap
Codhab
Tribunal de Contas do DF
Rodoferroviária (DFTrans e Adasa)
Prédios do Setor Bancário Sul (Banco do Brasil, Caixa, FNDE)
Prédios do Setor de Autarquias Sul (OAB, Ibama)
Prédios do Setor Comercial Sul
Universidade Corporativa Banco do Brasil


Terremoto teve epicentro na Bolívia (Foto: Infografia: Karina Almeida/G1)

O que explica?

Os tremores de terra sentidos no Brasil foram brandos porque o terremoto foi "muito profundo", segundo o professor de sismologia e pesquisador do Observatório Sismológico da UnB Lucas Vieira Barros. A 500 km de profundidade no epicentro, a energia se dissipou até chegar a cidades brasileiras.

“A região dos Andes é muito ímpar quando se fala em sismologia, tanto em termos de magnitude, quanto em profundidade. Na região, estão em contato as placas de Nazca e a Sul-Americana. Em razão disso, foi nesta região, mais precisamente no Chile, que houve o tremor de maior magnitude de que se tem notícia, de 9,5 em 1970.”


Mapa do serviço Geológico dos Estados Unidos mostra terremotos ocorridos na região da Cordilheira dos Andes, próximo à fronteira com o Brasil, entre 1900 e 2014 (Foto: Serviço Geológico dos Estados Unidos/Reprodução)

Segundo ele, é possível que haja outro temor na Bolívia, mas ele não deve chegar até o Brasil desta vez. "Normalmente, após um tremor de alta magnitude, ocorre um réplica, um abalo secundário. Via de regra, ele tem magnitude menor – geralmente é de 1,2 graus a menos que o primeiro."

"Por isso, não há nenhuma possibilidade de que produza qualquer reflexo no Brasil."

Mesmo que ocorra um terremoto de magnitude ainda maior, dificilmente geraria dano no Brasil, aposta Barros. "Em razão da distância e da profundidade, a energia se dissipa muito facilmente."

Fonte: G1