Acompanhe, às quartas-feiras, uma série sobre iniciativas culturais fora do quadradinho.

No muro da frente, um grafite dá as boas-vindas. A tela, assinada pela brasiliense Siren, traz uma releitura da artista que empresta o nome ao local.
Inspirada no Autorretrato com colar de espinhos e beija-flor, da mexicana Frida Kahlo, a obra, colorida e feita com spray, estampa o rosto da residência da Rua 30 de Vila Nova, em São Sebastião. Unindo ativismo feminino e arte, a Casa Frida pulsa como espaço cultural e abrigo para mulheres.

O ambiente nasceu em junho de 2014, a partir de um encontro que aconteceu em março daquele ano. Além de marcar a origem do espaço, a data sinaliza o início da amizade entre Hellen Cristhyan, 27 anos, e Loba Makua, 26. “Chegamos antes ao nome da casa do que no nosso próprio nome, isso porque nós nos apresentamos só depois”, conta Loba. “Foi algo tipo: ‘vamos abrir a casa? Massa! Mas como é seu nome mesmo?’”

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Envolvimento

A lembrança corresponde à situação em que as duas se apresentaram, à época. Em um domingo, a dupla começou a conversar enquanto esperava o ônibus para ir a um evento cultural no Paranoá.

“A Loba já tinha um envolvimento na cultura do cidade”, recorda Hellen. “ Nesse dia a gente se conheceu e foi um encontro do qual já voltamos com nome”.

Assim, em poucos meses, Hellen e Loba lançaram a Casa Frida. O nome não foi escolhido por acaso. Tanto remete diretamente à grande pintora mexicana – representativo símbolo da luta feminista – quanto compõe uma sigla: Feminismo, Revolução, Igualdade, Diversidade e Amor.

“Primeiro tem que ter o feminismo para que tenha revolução, para que a gente chegue na igualdade, para que lidemos com a diversidade e que o amor seja orientador disso tudo”, explica Hellen. Dessa forma, o ambiente abraça o movimento social como guia para as ações e fundamentos que regem o local . “Acreditamos que as mulheres têm total poder e liberdade para fazer e criar o que elas bem quiserem”, diz.

Cultura e acolhimento, a síntese da Casa Frida

A liberdade feminina é apontada pela dupla como o diferencial da Casa Frida. “Já existe um movimento cultural, já existe uma cena cultural e já existe formação do público na cidade”, avalia Hellen.

“O que não existia era um movimento feminista e nem um espaço aberto em São Sebastião. Muita coisa já estava criada, mas a gente queria criar com a nossa cara, do nosso jeito, com nosso olhar.”



Resistência

No início, lembra Hellen, houve resistência em função da pouca familiaridade geral com o tema. “Fomos recriando, as pessoas foram criando curiosidade em conhecer e viram que não tinha nenhum bicho de sete cabeças”, conta.

“Queremos construir uma cultura de bem viver, onde as pessoas possam ter liberdade com responsabilidade”.

A programação da Casa Frida se baseia em três pilares: cuidado e autocuidado; mobilização e articulação social; e produção e difusão da arte e cultura feminista.

O local engloba uma mistura de palco de cultura com acolhimento feminino. Além de saraus, debates temáticos, oficinas, workshops, aulas de dança e capoeira, a Casa Frida promove assistência social, com especialistas, para mulheres em situação de vulnerabilidade.

Manutenção

Uma campanha de arrecadação online, chamada #Todasporfrida, captou mais que o dobro da meta esperada. A verba é utilizada para o pagamento do aluguel. A casa também subsiste com a venda de bolos, brigadeiros, bebidas artesanais e doces, entre outros itens.

“Você vai vendo que a Casa Frida já não é mais uma casa física, mas um pensamento político”, resume Loba. “E as pessoas que têm esse pensamento e já precisaram da casa são as pessoas que sustentam nosso sonho”.

Serviço

Casa Frida Rua 30, Lote 121, próximo ao Colégio do Bosque, Vila Nova, São Sebastião – DF
Informações: https://www.casafridadf.com/, casafridadf@gmail.com ou (61) 98360-1676.

Fonte: Jornal de Brasilia
Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília.