Índice é resultado de programa criado para atender pacientes da atenção primária como Fátima Freitas, de 59 anos, na UBS 4 de Santa Maria. Há pouco mais de 6 meses, a taxa era de 35,86%

Mãe solteira, Fátima Isalice Freitas, de 59 anos, criou sozinha os cinco filhos com o dinheiro que conseguiu juntar mês a mês nos últimos anos. Vendedora de produtos cosméticos e beneficiária do Bolsa Família, ela é um dos 126 pacientes que têm atenção especial da equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) 4 de Santa Maria.Fátima Freitas, de 59 anos, é beneficiária do Bolsa Família e paciente da UBS 4 de Santa Maria, parte da Região Sul de Saúde. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

O grupo é composto por médico, enfermeira, dois auxiliares em enfermagem e quatro agentes comunitários de saúde.

Ele é referência dentro da Região Sul de Saúde, que no fim do ano passado criou um programa para melhorar o acompanhamento da atenção primária aos beneficiários do Bolsa Família.

A iniciativa resume-se em incentivar os profissionais das UBS a ter um olhar mais atento a esses pacientes, com trabalho em grupo, criatividade e ações programadas.

O resultado foi o aumento, em pouco mais de seis meses, de 35,86% para 86% no índice de acompanhamento desse público.

Agora, em um novo ciclo, esse índice já chega a 50%, mesmo restando algum tempo para o fim do semestre, quando os dados finais serão repassados ao Ministério da Saúde.
"O ministério (da Saúde) pede que acompanhemos o peso e a altura de determinadas faixas etárias, mas quisemos ir além"Iracy Gomes, coordenadora do Bolsa Família na Região Sul de Saúde

“O ministério pede para que acompanhemos o peso e a altura de determinadas faixas etárias, mas quisemos ir além”, conta a coordenadora do programa Bolsa Família da Região Sul de Saúde, Iracy Gomes, que iniciou o projeto.

Além de aferir os dados obrigatórios de crianças de até 7 anos e mulheres de 14 a 44 anos, a intenção é que todos os membros da família passem por avaliações constantes relacionados a temas diversos, como gravidez, saúde bucal e planejamento familiar.

Um dos desafios, segundo Iracy, foi diminuir o preconceito em relação a quem recebe o benefício e mostrar que para muitos deles esse cuidado especial faz toda a diferença.

“Essa pipoca que eles estão comendo aqui pode ser para alguns deles o café da manhã a que terão acesso hoje”, revela, ao citar o lanche de uma das ações do projeto da Região Sul.

Estabelecer vínculo entre profissionais e pacientes é essencial, realidade que a equipe que atende Fátima já percebeu faz tempo.

Os profissionais criaram um grupo para adolescentes, ajudam na inserção no mercado de trabalho e fazem mutirões para cuidados específicos quanto a vermes e desenvolvimento corporal.

“São pessoas vulneráveis, que precisam ser tratadas de forma prioritária”, resume a enfermeira Maria Abadia Leite, que coordena o grupo de Estratégia Saúde da Família na Região Sul.

“Não é só cuidar da saúde. Se conseguimos evitar uma gravidez precoce, posso garantir que a vida desses adolescentes seja melhor, com mais tempo na escola”, exemplifica.

Por isso, esses cuidados vão além da manipulação de remédios ou de uma consulta médica. Eles podem começar com uma conversa mais descontraída, um diálogo aberto, que muitas vezes o paciente não teria em casa.Programa que melhorou acompanhamento do Bolsa Família na atenção primária inclui ainda encontros para melhorar a saúde bucal. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

A sensibilidade para tratar as pessoas de quem cuidam já resultou, por exemplo, na queda de 69 para 34 no número de adolescentes grávidas.

Maria Abadia considera ainda ser imprescindível conhecer o histórico familiar e estabelecer vínculo com quem é acolhido.

Como no caso de Maria de Nazaré Moreira, de 40 anos. As duas filhas mais velhas da dona de casa já conhecem os profissionais pelo nome e, para elas, cuidar da saúde ali, como para a mãe, é parte da rotina.

A família é acompanhada desde que Maria de Nazaré fazia o pré-natal da filha mais nova, de 1 ano. Atualmente, ela aprende planejamento familiar e aprimora os conhecimentos sobre métodos contraceptivos.

“Sou muito bem acolhida aqui, me sinto especial. Esse atendimento é determinante para a minha saúde e a das minhas filhas.”

O programa Bolsa Família foi criado pelo governo federal, pela Lei n° 10.836, de 9 de janeiro de 2004, para contribuir com o combate à pobreza e à desigualdade social por meio da transferência de renda condicionada ao cumprimento de compromissos ligados à educação, à saúde e à assistência social.

Fonte Agencia Brasilia