Fluxo cresce; restrições são apoiadas tanto por eleitores de Bolsonaro quanto por opositores

A maioria dos brasileiros defende que o país endureça o controle da entrada de imigrantes, mostra pesquisa Datafolha. Dois em cada três entrevistados (67%) no levantamento, para o qual foram ouvidas 2.077 pessoas em 130 municípios, dizem concordar que o Brasil deve controlar mais a entrada de imigrantes. A pesquisa foi feita nos dias 18 e 19 de dezembro e a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Os resultados mostram que quanto maior a renda, maior a inclinação para querer o aumento da restrição à entrada de imigrantes: enquanto 74% dos entrevistados que ganham mais de dez salários mínimos responderam que concordam, no outro extremo (menos de dois salários mínimos) 62% disseram o mesmo. Além disso, os homens são mais favoráveis ao tema (72%) do que as mulheres (62%).

A concordância é maior também entre pessoas que declararam ter votado em Jair Bolsonaro (PSL) na eleição presidencial (73%) e menor – mas ainda majoritária – entre eleitores de Fernando Haddad (PT)(58%).

Já entre as regiões do país, houve pouca variação em relação à média geral. No Norte, mais afetado pela onda migratória vinda da Venezuela, e no Centro Oeste, a defesa de maior controle é de 70%.

O Brasil tem registrado aumento no número de imigrantes e refugiados, que dobraram de 2016 para 2017 dado mais recente disponível), somando 148.645. Com os trâmites, que podem levar até dois anos mas permitem que o solicitante viva aqui até uma definição, o país se tornou o sexto entre os que mais têm pedidos desse tipo acumulados, 85.746 em 2017.

Sírios, haitianos e venezuelanos estão entre os que chegam fugindo de conflitos e da crise econômica e política em seus países.

No entanto, é uma quantidade muito baixa em relação a outros países e os imigrantes são menos de 1% da população do Brasil – apesar de uma pesquisa global ter mostrado que os brasileiros acreditam que eles sejam 30% do total, ou seja, essa percepção é altamente superestimada. O país tinha, no fim do ano passado, 10.264 refugiados reconhecidos.

Crise em Roraima
No caso dos venezuelanos, que superam os 50 mil no país, a falta de estrutura de acolhida nas cidades de fronteira tem gerado uma crise no estado de Roraima, com conflitos entre a população local e os refugiados. Medidas judiciais depois revogadas já determinaram o fechamento provisório da fronteira para barrar o fluxo.

Bolsonaro promete manter a fronteira aberta, mas tem dito que pretende endurecer as regras de entrada de imigrantes em seu governo. O presidente eleito e seu chanceler, Ernesto Araújo, já afirmaram que vão retirar o Brasil do Pacto Mundial para a Migração, assinado neste mês por 152 países na ONU (Organização das Nações Unidas).

O documento não é legalmente vinculante, ou seja, os países não são obrigados a seguirem suas regras, mas apresenta recomendações e boas práticas a serem seguidas pelos países signatários. Ele prevê, por exemplo, que migrantes devem ter acesso a justiça, saúde, educação e informação e proíbe deportações coletivas e automáticas.

No último dia 18, Bolsonaro disse que a migração tornou “simplesmente insuportável” viver em algumas partes da França e disse: “Não somos contra imigrantes, mas, para entrar no Brasil, tem que ter um critério bastante rigoroso. Caso contrário, no que depender de mim, não entrarão”.

O Brasil deve controlar mais a entrada de imigrantes?
42% concordam totalmente
24% concordam parcialmente
1% não concorda nem discorda
12% discordam em parte
18% discordam totalmente
2% não sabem

Fonte: Metropeles