Médium passou o dia junto com outros três presos, mas dormiu isolado, depois que um quarto detento chegou ao local. MP e polícia receberam mais de 500 relatos de mulheres que afirmam terem sido abusadas durante tratamentos espirituais.

Por Murillo Velasco, G1 GO

João de Deus após ser preso, em Goiânia — Foto: Reprodução/TV Globo

O médium João de Deus, preso suspeito de abusos sexuais durante tratamentos espirituais, dormiu sozinho na 2ª noite preso no Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital. De acordo com a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP), durante o dia o líder religioso continua no mesmo espaço em que ficou no primeiro dia, junto com outros presos, que são advogados.

Esta foi a primeira noite em que João de Deus dormiu sozinho, em uma cela de 2,5m por 3m, que conta com uma cama e um armário. O local é menor do que o espaço onde o médium passa o dia na convivência de outros presos, e onde dormiu a primeira noite, uma cela de 16 m² destinada a advogados.

Número de denúncias contra João de Deus passa de 500

Número de relatos de abuso denunciando João de Deus passa de 500

Na segunda-feira (17), Toron havia informado que o cliente estava abatido e tinha dormido a primeira noite em um colchão no chão.

“Ele está abatido, prisão é prisão. Não podemos esquecer que estamos falando de um homem de 76 anos com doenças e suas dificuldades. [...] O Núcleo que guarda os presos provisórios, como todo sistema carcerário no Brasil, é sofrível. Quero dizer, tem condições ruins. O João dormiu um colchãozinho fino no chão”, disse.

Ainda segundo a DGAP, ele continuará com a mesma rotina do primeiro dia, com duas horas de banho de sol junto com os presos da cela. O café da manhã é composto por pão com manteiga e achocolatado. João de Deus está recebendo todos os seus medicamentos de uso contínuo, segundo a DGAP.

João de Deus está preso preventivamente no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, em Goiás — Foto: Henrique Ramos/TV Anhanguera

Prisão

João de Deus teve a prisão decretada na sexta-feira (14) a pedido da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO), que investigam os relatos de abuso sexual durante atendimento na Casa Dom Inácio de Loyola. No domingo, ele se entregou à polícia em uma estrada de terra em Abadiânia.

O médium prestou depoimento na noite de domingo, durante três horas. João de Deus afirmou à Polícia Civil que, antes de as denúncias de abuso sexual virem à tona, foi ameaçado por um homem, por meio de uma ligação de celular. Além disso, negou os crimes e que tenha movimentado R$ 35 milhões nos últimos dias.

Segundo o advogado Alberto Toron, o pedido de habeas corpus foi protocolado nesta segunda-feira (17). Em entrevista no domingo, ele citou como alternativas possíveis uma prisão domiciliar e o uso de tornozeleira eletrônica. Além disso, negou que tenha havido intenção de fuga.

João de Deus chega a delegacia em Goiânia após se entregar à polícia neste domingo (16) — Foto: REUTERS/Metropoles/Igo Estrela

Novas denúncias

O Ministério Público e a Polícia Civil informaram na segunda-feira que receberam 506 relatos de mulheres que dizem ter sido abusadas por João de Deus em Abadiânia. Além destes crimes, os órgãos também apuram se houve conivência de outras pessoas e denúncias de lavagem de dinheiro.

Ministério Público recebeu 506 relatos.
Das mulheres que denunciaram caso ao MP, 30 já foram ouvidas.
Polícia Civil colheu depoimentos de outras 15 mulheres.
Há relatos de vítimas de seis países e vários estados brasileiros.
Médium é investigado por estupro, estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude.
Não há pedido para suspensão do funcionamento da Casa Dom Inácio de Loyola, onde médium atende.

O delegado-geral da Polícia Civil, André Fernandes, disse acreditar que o número vai crescer a partir da parceria com o MP.

"É muito dinâmico. O MP vai contribuir com várias informações que foram colhidas por eles e serão enviadas para a polícia. Esses dados precisarão de uma nova análise por parte da polícia investigativa", afirmou.

A Polícia Civil declarou que o líder religioso será ouvido "quantas vezes for necessário" durante as apurações. Delegados e promotores que compõem as forças-tarefas que investigam os crimes se reuniram no período da tarde na Secretaria de Segurança Pública para compartilhar dados.