Acervo reúne borboletas, besouros, libélulas e aranhas coletado há cerca de 40 anos. Insetos começaram a ser catalogados por falecido biólogo que trabalhou no museu.

Por Daumildo Júnior*, G1 DF

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na casa do médico Luiz Cláudio Stawiarski, de 76 anos, em Brasília encontram-se 2 mil insetos catalogados e cuidadosamente mantidos em gavetas de madeira com tampa de vidro.

São borboletas, besouros, libélulas e aranhas que o pai dele, o falecido biólogo Victor Stawiarski, começou a colecionar há cerca de 40 anos.

Acervo de borboletas do falecido biólogo Victor Stawiarski, mantido pelo filho dele, o médico Luiz Cláudio Stawiarski — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O acervo, porém, deixou a capital na manhã deste sábado (23) e seguiu viagem para o Rio de Janeiro. Os insetos serão integralmente doados ao Museu Nacional – onde Stawiarski trabalhou como professor por 30 anos, a partir de 1940.

Em setembro de 2018, o museu sofreu um incêndio de proporções gigantescas e cerca de 20 milhões de peças foram perdidas, completamente destruídas pelo fogo.

Museu Nacional foi destruído por incêndio no domingo (3) — Foto: Reuters/Ricardo Moraes

Diante do ocorrido e da saudade latente do pai, Luiz Cláudio Stawiarski decidiu passar o acervo do biólogo adiante.

"Meu sentimento é um misto de tristeza – porque tenho muitas lembranças dele com essa coleção – e de reconhecimento do trabalho do meu pai", disse ao G1.

"É uma forma de homenageá-lo."

O médico Luiz Cláudio Stawiarski, de 76 anos, mantém o acervo de cerca de 2 mil insetos iniciado pelo pai, o falecido biólogo Victor Stawiarski — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Segundo ele, o pai era um apaixonado por insetos e borboletas, e colecionava os bichos para usá-los em sala de aula.

"Eu me lembro de sair para pegar borboletas desde os 7 anos. A gente passava horas coletando insetos e conversando."

Borboletas da coleção do falecido biólogo Victor Stawiarski, mantida pelo filho dele, o médico Luiz Cláudio Stawiarski — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

"Quando meu pai parou de lecionar, levou a coleção com ele e, quando morreu [em 1979], deixou para mim. " O médico ainda incrementou o acervo com insetos coletados no Rio de Janeiro, no Paraná e no Pará.

O médico Luiz Cláudio Stawiarski, de 76 anos, mantém a coleção de cerca de 2 mil insetos criada pelo pai, o falecido biólogo Victor Stawiarski — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Luiz Cláudio também acredita que os milhares de insetos podem ajudar a disseminar conhecimento e respeito sobre a vida destes pequenos seres, que, segundo ele, são menosprezados pelas pessoas em geral.

"Tem gente que vê um besouro e já pisa nele. Eles têm tanto direito de estar aqui do que a gente ou até mais."

Coleção de besouros do falecido biólogo Victor Stawiarski, mantida pelo filho dele, o médico Luiz Cláudio Stawiarski — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A ideia de incorporar a coleção ao acervo do Museu Nacional foi da filha de Luiz Cláudio, que fez a sugestão logo após o incêndio. "É importante para as próximas gerações", disse Ana Luisa Stawiarski à reportagem.

"Tem insetos raros ali, borboletas que meu filho não conheceu e não iria conhecer, porque são de 40 anos atrás."

Borboletas da coleção do falecido biólogo Victor Stawiarski, mantida pelo filho dele, o médico Luiz Cláudio Stawiarski — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Desfazer-se do maior elo entre Luiz Cláudio e o pai, porém, não foi uma tarefa fácil, segundo Ana Luisa. "A coleção foi a última coisa que fizeram juntos."

"O desapego é sempre complicado e meu pai vem sofrendo um pouco com isso. Nos últimos cinco meses, ele recordou muito do meu avô. Sentia ele por perto."

*Sob supervisão de Maria Helena Martinho.