A filha de Yuli Teran deixou a Venezuela para comprar comida no Brasil. Plano era retornar para país vizinho em março, mas passagem de pedestres foi proibida pelo governo Maduro.

Por Marília Marques, G1 DF

Yuli Teran, de 48 anos, deixou a Venezuela em busca de emprego e melhores condições no Brasil — Foto: Marília Marques/G1

Desde o fechamento das fronteiras terrestres na Venezuelana, nesta sexta-feira (22), a assistente jurídica Yuli Teran teme pela futuro da filha, de 11 anos. Ao lado do pai, a menina deixou o país governado por Nicolás Maduro para comprar comida em Roraima, mas, até o fim do dia, rondavam incertezas sobre a viagem de retorno.

Há dois anos, a família Teran vive dividida. Yuli é uma entre os 200 venezuelanos que pediram refúgio no Brasil e, no ano passado, foram transferidos para Brasília. A imigrante, de 48 anos, mora no DF há dois meses e tem um filho de 23 anos que está abrigado em Boa Vista (RR).

"Tenho medo de que fiquem presos aqui [no Brasil]. É uma preocupação porque estão com passagens de ônibus compradas para 8 de março, mas com essa decisão, não sabemos como vai ser", conta.

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A assistente jurídica está desempregada desde que chegou em Brasília. Ela vive em uma casa-abrigo em São Sebastião. "Minha filha veio com o pai para comprar comida e itens de higiene. Não tenho como trazê-los pra perto porque não tenho estabilidade aqui".

"A Venezuela vive um grande problema. Não há comida e, com a fronteira fechada, o presidente não quer aceitar ajuda humanitária. Está difícil para conseguir alimentos."

Área de açougue de um supermercado em Caracas é vista nesta quarta-feira (10) com prateleiras vazias, símbolo da escassez de alimentos na Venezuela — Foto: Marco Bello/Reuters

Sem comida

Da Venezuela até o Brasil, a família Teran enfrentou dois longos dias de viagem. A menina de 11 anos fez o trajeto acompanhado do pai até Boa Vista. Na capital de Roraima, os dois abasteceram as malas com arroz, verduras , shampoos, roupas e creme dental.

Segundo Yuli, no seu país de origem faltam itens básicos de higiene, além de carnes e alimentos nos supermercados.

"O salário do mês só dá para comprar um único frango pequeno."

Com a economia em colapso, os venezuelanos sofrem com a escassez em todas as áreas, inclusive de remédios de alto custo usados em tratamentos complexos.

Além disso, a inflação na Venezuela, em 12 meses, superou 1.000.000% no ano passado. Em 2019, a variação pode chegar a 10.000.000%.

Ajuda humanitária na Venezuela — Foto: Igor Estrella/G1

Sem ajuda humanitária

A ajuda humanitária oferecida à Venezuela está no centro da tensão envolvendo o regime de Nicolás Maduro e a oposição liderada por Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino por mais de 50 países.

Na quinta (21), Maduro anunciou o fechamento da fronteira com o Brasil – justamente onde fica um dos pontos de coleta dos carregamentos de comida, remédio e itens de higiene básica enviados à população venezuelana.

A região amanheceu bloqueada, nesta sexta (22), por tempo indeterminado. Porém, a população venezuelana já encontrou outras formas de entrar em Roraima. Pela manhã, o G1 conseguiu observar vários grupos de venezuelanos usando rotas alternativas no entorno da rodovia interditada (veja foto abaixo).

Pessoas carregam seus pertences após atravessarem a pé a fronteira da Venezuela com o Brasil em Pacaraima (RR) — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Apesar da decisão...

Apesar do fechamento das fronteiras, um avião com a ajuda humanitária para os venezuelanos decolou de Brasília em direção a Boa Vista, às 8h desta sexta (22), e chegou à capital de Roraima às 10h20 (horário local), segundo a Força Aérea Brasileira (FAB).

A aeronave leva 22,8 toneladas de leite em pó e 500 kits de primeiros-socorros. Na quinta-feira, o porta-voz do presidente Jair Bolsonaro, Rêgo Barros, explicou que, a partir da fronteira, os medicamentos e os alimentos deverão ser transportados por motoristas venezuelanos. Eles entrarão em território brasileiro para buscar a ajuda.