Funcionários do SLU têm aulas duas vezes por semana. 'Quem não sabe ler é cego. Hoje, me sinto outra pessoa', diz participante.

Por Maria Ferreira*, G1 DF

Projeto de alfabetização leva garis para a sala de aula no DF; na foto, as alunas Ana Rosa da Silva e Maria Lúcia da Silva — Foto: Maria Ferreira/G1

Pegar ônibus, ler placas ou até mesmo ir ao supermercado parece simples e rotineiro para muitos. Mas para os garis, que passam o dia na rua, não saber ler pode atrapalhar o trabalho e, principalmente, a vida pessoal.

Por isso, a empresa Sustentare Saneamento, em parceria com a Universidade Católica de Brasília (UCB), promove aulas de alfabetização para seus funcionários. A metodologia do curso foi desenvolvida pela unidade de ensino, por meio do projeto filantrópico “Alfabetização Cidadã”.

A iniciativa nasceu em 2014 quando a empresa percebeu que alguns colaboradores tinham dificuldade para entender comunicados. Um levantamento feito pela Sustentare mostrou que 60% de seus 2,7 mil funcionários (1.620) são analfabetos ou não concluíram o ensino primário.

Desse ano para cá, 167 garis conseguiram descobrir um mundo novo por meio da leitura e da escrita. Maria Lúcia da Silva, de 54 anos, é uma das alunas do projeto – que atualmente tem 50 participantes.

"Quem não sabe ler é cego, não enxerga. Hoje me sinto outra pessoa, sou livre, ando sozinha, passeio, trabalho", disse Maria Lúcia.

A funcionária do SLU contou ao G1 que sempre quis ingressar em uma faculdade, mas não saber ler e escrever a impedia de correr atrás desse sonho. Agora, ela planeja tentar uma vaga em um curso de agronomia.

Projeto de alfabetização leva garis para sala de aula no DF
G1 DF
















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Projeto de alfabetização leva garis para sala de aula no DF



Ana Rosa da Silva, de 57 anos, afirmou que, por causa da família, deixou de frequentar a escola na infância.



"Fugia para ir para escola, mas minha tia me batia. Ela dizia que quem estudava, naquela época, era mulher da vida e que moça de família não tinha que estar na escola."




Hoje em dia, Ana Rosa fala com alegria que, mesmo com certa dificuldade, já consegue escrever o próprio nome.


Para garantir a participação dos garis no projeto, as lições são ministradas durante o expediente. Os garis trabalham pela manhã, e à tarde vão para a sala de aula – duas vezes na semana




Olhar dos docentes




As aulas não mudam a percepção do mundo apenas para os estudantes. Os professores também têm sido tocados pela experiência.


Williani Carvalho, docente do curso, disse que a experiência a “reconstrói”:



"Ensinar pessoas que nunca tiveram a oportunidade de estudar, que não reconhecem o seu próprio nome, que estão em um mundo escuro, é extremamente gratificante".



Projeto de alfabetização leva garis para a sala de aula no DF — Foto: Maria Ferreira/G1




Analfabetismo no DF




Um levantamento do IBGE, feito em 2017, mostra que o DF tem 60 mil pessoas acima de 15 anos que não sabem ler nem escrever. O contingente de analfabetos é maior que o de estados como Roraima (20 mil) e Amapá (29 mil), mas lá, a população total também é menor.



Apesar do volume de pessoas que não sabem nem mesmo assinar o próprio nome, o Distrito Federal teve uma leve redução na taxa de analfabetismo. Em 2016, segundo o IBGE, a ausência de estudos era condição de 2,6% da população, contra o percentual de 2,5% no ano passado.