Antes mesmo da volta do período de chuvas, fumacê já está nas ruas com 4,5 toneladas do inseticida, o suficiente para atender o DF até junho de 2023.

Hédio Ferreira Júnior, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

Eram pouco mais das 6h da manhã desta quarta-feira (19) e um dos carros de fumacê da Secretaria de Saúde (SES) já circulava pelas ruas da QR 119 de Santa Maria. Assim como no anoitecer, o horário faz parte do período em que a fêmea do mosquito sai para coletar sangue e volta maturar os ovos que estão nos criadouros. E é ali, naquele momento, que o inseticida Etofenprox Vectron 20 pulverizado sobre as residências e imóveis comerciais abate o Aedes aegypti.Carro distribui inseticida pelas ruas das cidades: produto é eficaz contra o mosquito que transmite dengue, zika, chikungunya e febre amarela | Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília
Veículos que borrifam fumacê vão circular sempre das 17h30 às 22h, para reforçar a ação preventiva

As gotículas fazem parte de um carregamento de 4,5 toneladas de insumos adquiridos pelo Governo do Distrito Federal (GDF) no enfrentamento ao transmissor dos vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Com investimento de R$ 3 milhões, o produto é suficiente para atender todo o DF até junho de 2023 – ou até que o Ministério da Saúde envie mais material.

Desta quarta ao dia 28, o GDF intensifica a ação do fumacê nas áreas mais críticas de infestação do Aedes aegypti do Distrito Federal. O objetivo é reforçar os cuidados antes do início das chuvas, período em que aumenta a concentração de água parada em recipientes e objetos que servem como focos para larvas do inseto transmissor de doenças.

O mutirão vai passar por Ceilândia, Taguatinga, São Sebastião, Sobradinho, Planaltina, Santa Maria, Guará, Vicente Pires, SIA, Estrutural, Samambaia, Recanto das Emas, Lago Sul, Lago Norte e Asa Norte. Das 17h30 às 22h, dez carros-fumacê circularão ao mesmo tempo em uma determinada cidade, reforçando o trabalho combativo e preventivo da transmissão. Já na parte da manhã, as ações de rotina seguem isoladas em outros pontos das cidades.

Arte: Agência Brasília

Portas abertas

97%dos focos de dengue se encontram dentro das residências

Especialistas alertam que a dengue deixou de ser uma doença sazonal, ou seja, com incidência em determinada estação do ano, e tornou-se comum em qualquer época do ano. Outra descoberta é que a mutação do mosquito fez com que o depósito dos ovos passasse a ser feito também em água suja, além dos locais em que há água parada limpa.


Até agora, só neste ano, o DF já registrou cerca de 66 mil casos da doença. Além do fumacê espalhado pelos carros, a Vigilância Sanitária promove visitas presenciais dos agentes. De janeiro ao início deste mês, segundo o coordenador de Controle Químico e Biológico da SES, Reginaldo Braga, foram visitados 2.784 imóveis. Moradora de Santa Maria, Juvercina Rodrigues ensina: “Quando vejo vasilhas na rua que possam acumular água, jogo fora, porque conheço os focos. A gente precisa zelar um pelo outro”

Segundo o gestor, 97% dos focos estão dentro das moradias. Ele orienta que as pessoas deixem portas e janelas abertas quando o fumacê passar, pois o produto só é nocivo ao mosquito. “Apesar de letal ao inseto, na dosagem em que é pulverizada, a substância não faz mal ao humano nem aos animais domésticos”, assegura.

Juvercina Maria Rodrigues, 51 anos, fez a cartilha correta. Ao ouvir o barulho do carro passar em frente à sua residência, em Santa Maria, a vigilante abriu as portas e o portão para que a fumaça do inseticida chegasse dentro de casa. Ela garante tomar todos os cuidados para evitar a proliferação do mosquito; diz evitar também ter plantas em casa, para que os recipientes não sirvam de reservatórios das larvas. “Quando vejo vasilhas na rua que possam acumular água, jogo fora, porque conheço os focos”, diz. “A gente precisa zelar um pelo outro.”

Quem já sentiu no corpo as dores da dengue também se mobilizou para facilitar os efeitos do fumacê dentro de casa. A bombeira civil e estudante de veterinária Lauryleda dos Santos, 45, contraiu a doença no começo do mês e diz ter passado muito mal. Ela afirma estar consciente, mas ressalta que esse pensamento precisa ser coletivo. “Os agentes fazem a parte deles com a pulverização e vistorias, mas evitar a proliferação depende mais da gente que está dentro de casa”, alerta.