A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) realizou solenidade para homenagear os policiais que trabalharam para elucidar o feminicídio da agente da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Valdéria da Silva Barbosa. O reconhecimento público foi destinado a membros da corporação distrital e também da Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO).

O deputado Wellington Luiz (MDB), presidente da CLDF, fez questão de abrir o evento prestando solidariedade aos familiares de Valdéria e rendendo homenagem aos componentes das forças de segurança. “Apesar da tristeza do momento é importante estarmos juntos aqui para homenagear os bravos guerreiros que estão nessa luta e, em especial, a família da nossa amiga Valdéria. Saudação muito especial aos pais dela, aos filhos e todos os parentes que estão aqui. A presença de vocês nos fortalece como policiais e como seres humanos”.

O parlamentar completou, falando sobre a tristeza do momento e a necessidade de enaltecer o trabalho das forças policiais como forma de reduzir minimamente o sofrimento da família. “É um momento de muito sofrimento que a gente vive no Distrito Federal. Termos 24 feminicídios nos envergonha como cidadão e nos entristece como pais, mães e filhos. Resolvemos fazer essa homenagem aos policiais que bravamente cumprirão seu dever. Fica registrada nossa gratidão a eles. E agradeço também à família por estar aqui. Foi valioso ter ouvido do senhor Valdomiro que para ele era muito importante vir aqui e abraçar esses policiais. As palavras dele representam o que a gente realmente sente", declarou o presidente da Câmara Legislativa.

Ian Barbosa Tavares, filho da agente Val, como era chamada em família, falou representando toda a família enlutada. “Antes da minha mãe ser policial, ela era filha, mulher, tia, irmã, mãe e esposa. Em todas essas áreas, minha mãe foi uma mulher excepcional, fora da curva, e desempenhou seu papel com a mais alta honra e dignidade. Aonde quer que íamos nesses primeiros dias de dificuldade, alguém a conhecia, elogiava e se comprometia a fazer o máximo possível para nos ajudar. Meus mais profundos e sinceros agradecimentos à PCDF e à PMGO. Sem vocês, eu não conseguiria sequer dormir. Quero deixar um último recado às mulheres que estão nessa mesma situação: não deixem ninguém silenciar vocês, não deixem que ninguém tenha controle sobre vocês. Procurem ajuda. Tenho certeza de que a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) irá acolhê-las. Estou torcendo por vocês do fundo do meu coração. Vamos vencer juntos”, afirmou Ian. Participaram da cerimônia os pais, Valdomiro e Maria José, e o outro filho, Luca Barbosa.

A presidente da Comissão de Segurança da CLDF e Procuradora Especial da Mulher, deputada Doutora Jane (MDB), registrou que a polícia é uma família. “No serviço público, tenho 42 anos e na PCDF, 24 anos. Passei pela Saúde, pela Educação e pela Segurança pública. Sabemos que a polícia é verdadeiramente uma família. Tinha certeza de que a Polícia encontraria o assassino porque estava ferida. Nós perdemos uma familiar. Quero demonstrar meu sentimento para a família e de dizer que tenho o maior orgulho de me ombrear aos policiais civil e aos policiais de Goiás”, disse a deputa Jane, que também atuou como delegada da PCDF. A distrital ainda concluiu sua fala com um chamamento.“Precisamos permitir que a vítima se sinta confortável. Ela não é responsável pela violência que sofre. Tem um covarde que agride, xinga e mata. Em nosso país ainda é muito confortável ser agressor de mulheres. Nós passamos pano, desculpamos os agressores. Ele tem que ter o peso social e essa responsabilidade é nossa”, finalizou Doutora Jane.


O deputado federal Fred Linhares (Republicanos) afirmou que foi o primeiro a dar a notícia da morte do assassino de Valdéria e elogiou a atuação dos policiais. “Não adianta combater a violência com flores. Queria muito que mais pessoas defendessem os policiais assim como nós que estamos nessa mesa defendemos. Se dependesse de mim, eles teriam muito mais liberdade para trabalhar. Lamento a morte de uma policial civil que salvou várias vidas e salvou muitas mulheres trabalhando na DEAM. Ela morreu de forma muito covarde. Já estamos em 24 feminicídios e 47% delas registraram ocorrência contra esses caras. Até onde vamos chegar com isso”, questionou Linhares.

Por sua vez, a deputada federal Bia Kicis (PL) disse que é preciso dar um basta nesta situação. “Como mulher me sinto atingida. Não suportamos mais esse tipo de violência. Temos que lutar para melhorar a legislação. Eu como procuradora que fui, entendo que temos que alterar a lei de execuções penais para que uma pessoa condenada a 20 anos fique os 20 anos. Temos que acabar com essa história de a pessoa cumprir um quinto da pena e ir para casa, livre”, declarou a parlamentar.

O comandante do 17º Comando Regional da PMGO, coronel Alan Cardoso, registrou elogios aos policiais pela ação. “Nós não podemos trazer de volta a senhora Valdéria, mas a PMGO, juntamente com a PCDF, pode fazer com que esse indivíduo nunca mais pratique atos de extrema covardia. Sou testemunha do trabalho árduo da PCDF e da PMDF em garantir segurança pública à capital da República e em apoiar a nossa instituição nas ações do entorno. Parabenizamos os policiais militares na pessoa do major Polidoro, comandante do 3º Batalhão de PM, na cidade de Porangatu. Os senhores têm o reconhecimento do nosso governador do Estado por estarem fazendo aquilo que é orientado: agir com legalidade e com extrema dureza contra a criminalidade dentro do território goiano”, disse o coronel.

Já o chefe da 32ª delegacia de Polícia Civil, em Samambaia, Alexandre Azambuja agradeceu os colegas que participaram da incursão a Porangatu. “Agradeço aos colegas da PMGO e aos meus colegas que foram a Porangatu. Tínhamos uma grande equipe trabalhando por trás e nos dando apoio. Solidarizo-me com a família. Estive muito dedicado neste caso e tenho orgulho de ser policial”, declarou o policial.

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF), Enoque Venâncio de Freitas, disse que é muito difícil o trabalho policial. “Sabemos como é difícil o nosso trabalho, quando a gente está solucionando crimes relativos à sociedade em si. E quando atinge o nosso seio é mais difícil ainda. A homenagem é mais do que justa com essa ação que foi muito rápida. Por fim, quero dizer à família que ela se sinta acolhida e que sempre que precisar do sindicato pode contar com a gente”, afirmou o sindicalista.

A presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Distrito Federal, Cláudia Alcântara, afirmou que ficou muito chocada com a notícia da morte de Valdéria. “Estou ainda abalada com o fato. Na delegacia onde eu trabalho, em Santa Maria, 70% dos nossos inquéritos são de violência doméstica. Então, atendemos mulheres todos os dias, mas quando a situação ocorre com alguém que está ao nosso lado é diferente. Então, me pergunto: o que estamos fazendo de errado? Por que uma policial que orienta e que atende não foi capaz de ter sido cuidada, protegida. Temos que sentar e fazer com que existam protocolos para proteger mulheres policiais porque quando se mexe com uma policial, se mexe com toda uma instituição”, exaltou a delegada.

Já o secretário de Administração Penitenciária do Distrito Federal, Wenderson Souza e Teles disse que a homenagem demonstra a integração das forças policiais. “Sempre que você precisa de ajuda do outro policial, vai ter uma mão amiga estendida para ajudar. A atuação brilhantes dos policiais de Goiás e dos policiais civis do DF foi uma mostra disso”, afirmou o secretário.

O secretário-executivo da Secretaria de Estado de Segurança Pública, Alexandre Patury, falou em nome de toda a secretaria. “Falo de dor porque sei da dor da família e dos colegas. Perder um policial é sempre uma coisa muito dura. Quando sentimos na própria carne, sentimos muito. Temos que agradecer pelo tempo dela [Valdéria] na terra. Ela foi um exemplo e não será esquecida na nossa luta. Dos 24 feminicídios que tivemos, todos foram elucidados. Sendo que 22 pessoas foram presas e duas estão mortas. Mas queremos é que não aconteça o crime. Isso já é uma guerra ao feminicídio. Quem bate em mulher tem que ser preso, quem ameaça tem que usar tornozeleira e se ameaçar de novo, cadeia”, enfatizou Alexandre.
O caso

A agente da PCDF Valdéria da Silva Barbosa era lotada na DEAM 2, em Ceilândia. Ela foi vítima de feminicídio na sexta-feira (11). Em um crime brutal, foi morta com 64 facadas por seu ex-companheiro, Leandro Peres, que estava foragido, e foi morto em troca de tiros com policiais militares do Estado de Goiás.

Francisco Espínola - Agência CLDF